Luiz Melodia: "Parei de correr. Agora vou andando"

O cantor e compositor repassa sua trajetória e fala sobre a estreia da turnê do novo álbum 'Zerima' com dois shows em São Paulo


Felipe Tringoni Música

23/09/14 11:10 - Atualizado em 31/07/17 20:48

Luiz Melodia (Foto: Divulgação)
Luiz Melodia (Foto: Divulgação)

Passaram-se sete anos desde as últimas gravações em estúdio – no álbum Estação Melodia, de 2007, que trazia releituras de sambas dos anos 1930, 40 e 50. Para o último registro de canções inéditas a distância é ainda maior: Retrato do artista quando coisa saiu em 2001. O tempo de Luiz Melodia, 63, agora é outro.

"Hoje eu componho com menos frequência do que quando era jovem. E procuro fazer a coisa certa", diz. A serenidade é marca de Zerima, seu novo álbum, lançado em junho deste ano. "Costumo dizer que parei de correr. Agora eu vou andando."



Quando decidiu entrar em estúdio, Melodia chamou o produtor Liber Gadelha, com quem começou a trabalhar nas primeiras bases de canções. Mas o processo foi interrompido por uma série de imprevistos: Gadelha foi submetido a uma cirurgia e substituído por Humberto Araújo; logo depois, foi Melodia quem adoeceu. Durante seus três meses de recuperação, compôs músicas como "Vou com você" e "Caindo de bêbado".

"Zerima", a canção que dá nome ao álbum, também vem de um momento triste para o compositor. O título é um anagrama do nome de sua irmã, Marize, falecida há três anos.



Além das canções próprias, Zerima traz releituras de compositores admirados pelo músico: em "Nova era", samba de Dona Ivone Lara, ele reforça os tons de desalento; "Maracangalha", homenagem a Dorival Caymmi no ano do centenário do baiano, vem em roupagem funk e com a participação de Mahal Reis, rapper e filho de Melodia; e "Leros e leros e boleros", nova composição do amigo Sérgio Sampaio a ganhar uma versão sua (Luiz gravou "Cruel" e "Que Loucura" em trabalhos anteriores).

Aqui, Melodia fala sobre a música de Sampaio e relembra momentos da época da estreia fonográfica de ambos pela gravadora Philips em 1973, ano em que lançaram os clássicos Pérola Negra e Eu quero é botar meu bloco na rua, respectivamente.



Ao longo de toda a sua carreira, mas principalmente no citado Pérola Negra, Melodia sempre explicitou sua relação com as origens no Morro de São Carlos e o bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. Em Zerima, a lembrança está na segunda faixa, "Dor de carnaval", e nasceu como uma homenagem torta. "O título original era ‘Estácio fraco fantástico’ [risos]. Depois eu troquei o nome e resolvi aliviar na letra. Isso porque minha escola está no grupo de acesso do Carnaval carioca. E está há anos!", reclama o torcedor da Estácio de Sá.

A faixa é um lamento sobre a sorte da escola, de arranjo que flerta com Jazz e Bossa e carrega certo clima de quarta-feira de cinzas ("Mais um carnaval que passou / Mais uma vez, minha escola não ganhou"). Além disso, traz a participação especial da cantora Céu – com quem Melodia já havia gravado a faixa "Vira Lata", lançada no segundo álbum da paulistana, em 2009. "Acho que a voz dela tem muito a ver com a melancolia da canção".



A turnê de Zerima tem estreia nacional na capital paulista. "Onde eu tive mais segurança no começo de carreira foi em São Paulo. Nos meus primeiros shows, eram poucas pessoas, mas eu me sentia tão à vontade com a atenção do público, que decidi desta vez por fazer o lançamento lá. Já fiz em outras cidades e não me lembro de ter feito em São Paulo", conta.

Para as apresentações ao vivo, Melodia montou um grupo reduzido, a fim de preservar a sonoridade "jazzística" da maior parte das canções. Além disso, pediu ao arranjador Humberto Araújo para que clássicos de seu repertório, como "Pérola Negra" e "Congênito", permanecessem com seus arranjos originais.



Os shows de Luiz Melodia e sua banda acontecem nesta terça e quarta-feira (23 e 24), no Theatro NET, em São Paulo. Confira os detalhes no Guia da Cultura.
 

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