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História

O programa Vila Sésamo exibido anos 1970 marcou história na programação infantil da TV Cultura. Tanto a emissora quanto o programa surgiram no contexto do final dos anos 1960, momento marcado por grande agitação política, econômica e social, e ambos carregam a crença no potencial e alcance da televisão como instrumento de ensino, aprendizado e construção cidadã. O programa ensinou com graça e humor conhecimentos básicos que marcaram a vida de milhares de crianças e adultos, ao mesmo tempo que revolucionou o modo pelo qual se fazia programas infantis. Enquanto crianças se divertiam aprendendo sobre letras, números, cores e formas, produtores de televisão dividiam tarefas com pesquisadores, pedagogos, psicólogos e bonecos.

 

“Todo dia é dia , toda hora é hora, de saber que este mundo é seu. Se você for amigo e companheiro, com alegria e imaginação. Vivendo e sorrindo, criando e rindo, será muito feliz e todos serão também!”

 

Gastão Moreira apresenta o programa "Arquivo 30", episódio especial sobre a Vila Sésamo dos anos 70. Programa produzido e exibido em comemoração aos 30 anos da TV Cultura.


Vila Sésamo no Brasil

Em 1972, após três anos da inauguração da TV Cultura, estreava o programa Vila Sésamo, no dia 12 de outubro, data comemorativa do dia das crianças e de Nossa Senhora Aparecida. A coprodução foi realizada em parceria com a TV Globo, com colaboração do setor de cinema da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo.

Reconhecida como a produção educativa infantil de maior sucesso em todos os tempos, destinada à televisão, o Sesame Street (Rua Sésamo, na tradução literal)é o nome original da série estadunidense. O programa foi transmitido pela TV Cultura entre 1972 e 1973, (e pela TV Globo até 1977) e foram produzidos cerca de 130 episódios, de 55 minutos de duração cada, sem intervalos comerciais. Presente em mais de 140 países, foram licenciadas versões, adaptações ou coproduções, como foi o caso aqui no Brasil.

O programa foi dedicado à educação pré-escolar, focado nas crianças carentes entre três e cinco anos, oriundas de famílias de baixa renda. A linguagem adotada fez uso das técnicas publicitárias, prezando o ritmo acelerado e envolvente para atrair e manter a atenção das crianças. Temas iguais eram repetidos em diferentes quadros para garantir o aprendizado. Personagens humanos e bonecos mesclaram-se em uma atmosfera leve, lúdica e divertida, com instrução dos números, letras do alfabeto, cores, geometria e estímulo ao raciocínio etc. Não foram poupados esforços para empregar o que havia de mais moderno em termos de recursos artísticos, técnicos e visuais, além da utilização de animações, dentre outros.

           

Vila Sésamo na TV Cultura

No início da década de 1970, Claudio Petraglia (novelista, diretor e maestro), então Assessor Cultural da TV Cultura, após ler um artigo da revista Time sobre o Sesame Street, solicitou autorização à direção para ir à Nova York verificar as condições e possibilidades de trazer a produção do programa Sesame Street para o Brasil. De pronto recebeu aprovação, visto que na grade da novíssima TV Cultura de São Paulo ainda havia carência de programas para o público em idade pré-escolar.

A cenografia, desenvolvida por José Armando Ferrara, pautava-se pela atmosfera de habitação de moradores de baixa renda, inspirado nos casarões do bairro do Bixiga, em São Paulo (aspecto de vila operária). O título Vila Sésamo, ao contrário de rua ou praça, como em outras versões estrangeiras foi adequado à realidade brasileira. “Vila com sentido de útero, proteção”, segundo o próprio Petraglia. Os bonecos ficaram a cargo de Naum Alves de Souza, que criou o Garibaldo, Gugu e Funga Funga.

O elenco contou com os atores Aracy Balabanian, no papel da doceira Gabriela, e Armando Bogus como o artesão Juca. Ambos vieram da TV Globo. Do teatro chegaram Sonia Braga, que fez o papel da professorinha Ana Maria, e Laerte Morrone, que deu vida ao boneco Garibaldo. Os dois atores atuaram no musical Hair, dirigido por Ademar Guerra, que também foi convidado a participar do Vila Sésamo como diretor. Para interpretar o dono do armazém, Seu Almeida, foi escalado o ator Manoel Inocêncio. Roberto Orosco deu vida ao boneco Gugu.

As crianças que atuavam vinham de famílias carentes e participavam sendo elas mesmas nas gravações, sem seguir nenhum roteiro. O motorista de caminhão Antonio, interpretado por Flávio Galvão, entrou no programa após fazer um teste realizado com Petraglia. (segundo o escritor Rodrigo Bernardes, que produziu um livro sobre o programa Vila Sésamo e está buscando editoras para o lançamento).

O inesquecível Garibaldo, interpretado pelo ator Laerte Morrone, principal personagem do programa, foi reconhecido por Jim Hanson (o criador do boneco Garibaldo e também do Caco, personagem do programa Muppet Show), como o mais divertido das produções mundiais. A versão brasileira do estadunidense Big Bird foi confeccionada em tons de azul, para solucionar uma questão puramente técnica: a televisão brasileira ainda estava na era do preto e branco (a expansão da  TV a cores ocorreria somente a partir da Copa do mundo de 1974). Esta solução proporcionaria uma melhor profundidade e visualização do personagem, que seria visto em tons de cinza.

A produção nacional contava com quadros que vinham dos Estados Unidos e traziam novos personagens, como a dupla de bonecos Enio e Beto, o sapo Caco, dentre outros. Também havia os quadros de animações e efeitos especiais. O reconhecimento não tardaria a chegar: O programa conquistou o prêmio Helena Silveira em duas categorias: Melhor Programa Cultural e Revelação Feminina, conquistada pela jovem Sonia Braga, neste que foi um dos primeiros papéis de sua carreira na televisão. O programa também foi laureado com o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) de melhor programa didático de televisão.

Mesmo passados mais de 40 anos da estreia, alguns adultos que viram o programa na época, ainda se comovem diante do boneco Garibaldo (restaurado em 2007 pelo artista plástico Flavio Henrique Fabiano), atualmente exposto e preservado no Centro de Memória Audiovisual (CMA) da TV Cultura[1]

A experiência pioneira da coprodução do Vila Sésamo na década de 1970 marcou profundamente as produções educativas infantis da TV Cultura. Influenciou diversos programas, seja pela utilização de recursos audiovisuais, manipulação de bonecos ou pela adoção do modelo de pesquisa e produção, integrando profissionais ligados à educação, pesquisa e produção televisiva.

De acordo com o diretor Ademar Guerra, o Vila Sésamo foi “um programa feito para os brasileiros”. A atmosfera era representativa de um contexto social, que integrava as crianças com a sua própria realidade, sem estranhamento ou imposição forçada, de maneira lúdica, atraente e divertida. Porém, o efeito “abre-te sésamo” do programa proporcionou alfabetização intelectual e técnica para a emissora, e básica para os telespectadores. Parabéns à TV Cultura e à Vila Sésamo, que comemoram 45 anos de estrada e conquistas em 2014. Muito ainda está por vir!

 


[1] O Centro de Memória Audiovisual (CMA) é um museu institucional cadastrado no Sistema Brasileiro de Museus desde 2007, e, como tal, atua no atendimento interno, externo e na preservação dos objetos históricos e artísticos que formam parte do Acervo da Fundação Padre Anchieta. Desenvolve ações de pesquisa, recuperação, conservação e comunicação, por meio de publicações, projetos educativos, expositivos, dentre outros.