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Pais e educadores

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A importância do brinquedo e do brincar para a criança com deficiência visual

28/03/14 - Por Mara O. de Campos Siaulys, .

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A brincadeira é a vida da criança sendo a melhor forma para ela conhecer o ambiente, aprender, movimentar-se, ser independente, desenvolver o físico, a mente, a autoestima, afetividade e criatividade.

Brincando as crianças entram em contato com os objetos, as diferentes cores, texturas, formas, tamanhos e sons. Ao manejá-los fazem tentativas, erros e acertos, aprendem sobre a função de cada um, como utilizá-los, desmontá-los e montá-los.

O brincar ajuda na resolução de problemas, desenvolve a criatividade, as capacidades físicas, perceptivas, emocionais, intelectuais e sociais e sem que a criança perceba, favorece um aprendizado leve e natural.

guilherme_calissi_2A brincadeira infantil ajuda a ampliar o vocabulário e a expressar idéias e pensamentos. É uma forma importante de interação, participação e convivência, de aprendizado alegre e espontâneo, levando a criança a enfrentar desafios e fazer descobertas. As crianças aprendem a brincar umas com as outras, observando-se mutuamente, movimentando-se juntas, imitando, participando de jogos.

O brincar é importante para o desenvolvimento afetivo da criança, para a formação da auto-imagem, dos sentimentos e atitudes positivas sobre si mesma e os outros, para ela sentir-se forte e enriquecer a personalidade, viver intensamente as emoções, sentimentos, frustrações, imaginações e fantasias, resolvendo conflitos, desenvolvendo alianças e comportamentos sociais; ajuda-a a construir e respeitar regras, atitudes essenciais para que aprenda a viver em sociedade e a conviver com as diferenças.

Dar à criança inúmeras oportunidades de brincar e conviver com otimismo e descontração é o melhor caminho para que ela desenvolva seu potencial, seja feliz e se prepare para a vida adulta. É necessário então que as crianças encontrem nesses ambientes pessoas sensíveis, que as compreendam, que entendam suas necessidades, seus interesses, respeitem sua individualidade e seus sentimentos e interajam com elas de forma agradável e otimista, ajudando-a a ser feliz.

Sempre acreditei na importância do brincar e dos brinquedos e acompanhar o desenvolvimento da criança, como mãe e profissional, foi uma tarefa que me encantou: compreender o mundo infantil, os anseios, fantasias e interesses da criança, mostrar-lhe sempre com palavras e ações meu envolvimento em seu aprendizado e respeito por sua individualidade, seus sentimentos e atos, minha convicção de seu papel como sujeito da educação, foi uma missão que me motivou e desafiou.

Em todos os momentos de minha vida como mãe, educadora e profissional militante na área da deficiência visual, tenho procurado de forma insistente, diferentes meios para atingir este objetivo: propiciar condições favoráveis ao desenvolvimento infantil.

Esta busca freqüentemente me conduz a um dos caminhos em que sempre acreditei: através do brinquedo é possível interagir de forma agradável com a criança, apoiá-la para que se desenvolva e seja feliz e integrada. Compreendi que o brincar e o brinquedo são ferramentas importantes para a comunicação, compreensão do mundo, aquisição de habilidades, competências e caminho propício para a inclusão social. Comprovei que as crianças que tiveram oportunidade de participar da vida da família, frequentar a escola, passear, interagir, comunicar-se e brincar, contando com a mediação de pessoas dispostas a apoiá-las em sua aprendizagem, apresentam ótimo desenvolvimento.  

Essa convicção tem guiado meu trabalho e a organização que dirijo, Laramara – Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual, em São Paulo. Laramara foi criada em 1991 para o atendimento especializado, priorizando propostas lúdicas, acreditando no brincar como meio de facilitar o desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Valoriza o brincar e o brinquedo para a interação com a criança e como facilitador de seu desenvolvimento, defendendo o direito da criança com deficiência visual a um aprendizado prazeroso, idéia esta que determina a fundamentação da cultura institucional, a ponto de podermos afirmar que o brincar e o brinquedo se constituem em uma filosofia norteadora do trabalho.

         Meu interesse pela educação da criança com deficiência visual teve início com o nascimento de minha filha caçula Lara, cega devido à retinopatia da prematuridade. Foram anos e anos de procura por conhecimentos sobre este tema, em que eu quis saber sempre mais sobre as necessidades específicas do desenvolvimento da criança com deficiência visual, inicialmente para poder educar Lara e posteriormente para realizar melhor minhas atividades como educadora especializada. Compreendi que estas crianças possuem necessidades específicas em relação à interação e comunicação com o meio, necessitando de procedimentos diferenciados no processo ensino-aprendizagem e que os brinquedos especiais e adaptados são imprescindíveis para ajudá-las a ser ativas e participantes. Os brinquedos podem ampliar suas experiências, ajudá-las a adquirir habilidades e conceitos, a construir imagens pelo conhecimento e exploração do ambiente com o próprio corpo, a interpretar as pistas ambientais por meio dos sentidos e das descrições verbais a respeito do que se passa em volta.

Observando as necessidades das crianças durante meu trabalho, e procurando atendê-las, iniciei a criação e confecção de brinquedos especiais e procurei compartilhar essas idéias com as famílias, introduzindo estratégias semelhantes em Laramara. Esses brinquedos especiais e adaptados procuravam: facilitar a experiência e a integração sensorial, o conhecimento de muitos objetos do ambiente, pelo tato, pelo som, pelo aroma, pelo nome, por seu uso e função; ajudavam na aquisição da consciência corporal, na autonomia para a realização das atividades do dia a dia, independência para a locomoção e integração ao ambiente; auxiliavam as crianças a ter contato com o Braille desde muito pequenas, da mesma forma que as crianças que enxergam têm com as letras comuns. Mas antes de tudo, esses brinquedos proporcionavam muita alegria e inúmeras possibilidades de brincadeiras para que todas as crianças brincassem juntas, as que enxergam e as que não enxergam, facilitando a interação na família, escola e comunidade.

Para que o aprendizado de conceitos como forma, tamanho, organização espaço-temporal, esquema corporal, causalidade e pensamento lógico-matemático se processe de forma adequada, precisamos promover a concretização dos mesmos, através de materiais pedagógicos que possam ser assimilados pelos outros sentidos: tátil-cinestésico, auditivo e olfativo; esses brinquedos deverão ser adequados à sua realidade, exigindo maior atenção dos pais e educadores. Suas possibilidades de desenvolvimento são muito grandes, desde que tenham oportunidade de educação com metodologia e recursos adequados.

Procurando criar estratégias para envolver as famílias, sensibilizando-as para a importância da brincadeira entre pais e filhos, da participação da criança na vida familiar, da interação alegre e otimista, das demonstrações de carinho, da aceitação e crença no potencial de desenvolvimento da criança, criamos o Espaço de Integração e Convivência da Família. Este espaço foi apresentado às famílias como um lugar para desenvolver brinquedos e de que forma utilizá-los nas brincadeiras com seus filhos; mas a idéia por trás dessa atividade prática era de que as famílias tivessem oportunidade de estar juntas, fortalecendo-se, juntando-se na solução de problemas, compartilhando idéias, dando suporte emocional umas às outras, aprendendo a ser ativas na busca da solução de problemas.

Os brinquedos são atualmente em número de 121 e constam do manual publicado em 2001, Brincar Juntinhos. O livro Brincar para todos, publicado em 2005, reúne idéias sobre brinquedos e brincadeiras adaptadas, destacando sua utilização para todas as crianças, com ou sem deficiência. Mostra como confeccionar os brinquedos desenvolvidos em Laramara, como brincar e quais as competências e habilidades que mais despertam nas crianças.  Quinze mil exemplares deste livro foram distribuídos para todo o Brasil pela Secretaria da Educação Especial do Ministério da Educação.

     Procurando sensibilizar os educadores das creches e escolas de educação infantil da cidade de São Paulo, Laramara fez uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação, denominada “Projeto Brincar Feliz”, que leva à instituição, anualmente, 150 professoras dessas escolas, para participar de palestras e oficinas sobre brincadeiras e brinquedos e sobre deficiência visual, recebendo gratuitamente o livro e o DVD Brincar para Todos. Leva ainda 450 crianças das creches para brincar nos espaços da instituição junto com as crianças da instituição.

     O Projeto Coisa de Mãe, realizado em Laramara nos últimos 2 anos, distribui brinquedos no dia da criança, brinquedos esses confeccionados pelos familiares, com orientação dos profissionais, que assim  poderão valorizar ainda mais esses materiais para o desenvolvimento de seus filhos.

Esperamos com nossas ações ampliar cada vez mais o desenvolvimento integral da criança e o acesso ao conhecimento e à informação por parte da comunidade e da escola sobre suas possibilidades de aprendizagem, desde que tenham um ambiente favorável, com acessibilidade física e social, adaptação de materiais, interação e ludicidade.

 

BIBLIOGRAFIA

 

BRUNO, M. M. G. O desenvolvimento integral do portador de deficiência visual: da intervenção precoce à integração escolar. São Paulo: Midi “L’ufficio Del Arte”, 1993.

 

CUNHA, N. H. S. Brinquedoteca, um mergulho no brincar. São Paulo: Maltese, 1994.

 

FRIEDMAN, A., AFLALO, C., ANDRADE, C., ALTMAN, R. (org.) O Direito de Brincar – A Brinquedoteca – Fundação Abrinq. São Paulo: Scritta. 1992.

 

SIAULYS, M.O.C. Aprendendo junto com Papai e Mamãe. São Paulo: Laramara, 1998.

_________________ Brincar para todos. São Paulo: Laramara, 2005.

 
Mara O. de Campos Siaulys

Mara O. de Campos Siaulys

Professora de Geografia que após o nascimento de sua filha Lara, com retinopatia da prematuridade, iniciou uma busca incessante de informações sobre a cegueira. Nesta busca, cursou Pedagogia e Habilitação em Deficiência Visual na Faculdade de Educação da USP. Em 1991, fundou com seu marido a Laramara – Associação Brasileira de Assistência à Deficiência Visual, em São Paulo, para compartilhar suas experiências com outras famílias e profissionais. Em 2005, publicou o livro “Brincar para Todos”.

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