No início dos anos 1970, em Recife, Di Melo mostra sua batida ao violão para um dos artistas que mais admirava: Jorge Ben. A partir daí a soul music brasileira ganha mais um nome e um disco antológico
“Eu, Roberto de Melo Santos, pernambucano, recifense, em arte Dimelo, venho desde cedo, me ramificando e perseguindo o rumo das artes, ou seja, nas áreas de canto, da composição, da poesia, do entalhe, da pintura e da interpretação. Me envolvo, me apego por inteiro e me entrego de corpo, coração e mente a tudo aquilo que me predisponho a fazer. Não sei se é um erro ou virtude, porém, de nenhuma outra forma que possa concluir eu consigo me ver diferente.” É assim que Di Melo se descreve em sua página no MySpace.
Di Melo é responsável por uma pérola da soul music, do samba rock brasileiro: o seu álbum homônimo lançado em 1975.
No início da década de 1970, em Recife, Di Melo com seu violão a tira a colo mostra sua batida para um dos artistas que mais admirava: Jorge Ben. De imediato, Babulina reconhece o talento do garoto e lhe deu um cartão do empresário Roberto Colossi, que agenciava artistas como Chico Buarque, Paulinho da Viola, Wanderley Cardoso e Jô Soares. A partir daí, Di Melo cai no circuito das principais casas de shows da capital paulistana, além conseguir patrocínio da empresa Ducal Roupa. "Eram outros tempos: na noite neguinho tomava banho de beleza, banho de Leite Moça, banho de cortiça pra ficar maneiro, pra ver fulano tocar", conta o cantor, com sua agradável malandragem.
Mas, o que realmente abriu caminho para a gravação do disco de 1975 foi o palco do Jogral, um dos mais disputados na noite paulistana. Bob Di Melo, ou simplesmente Di Melo, animava o público até o fechamento dos portões, e chamava atenção de outros artistas. "No Jogral, quem subia no palco tinha que superar o artista anterior!" Alaíde Costa, uma das frequentadoras do palco e da plateia, indicou Di Melo à Moacir Machado, então diretor da gravadora Odeon. Em oito dias o disco estava gravado. Um time com Claudio Beltrami (contrabaixo), Dirceu (bateria), Capitão (trompete) e Bolão (saxofone), além das participações de Hermeto Pascoal e Heraldo do Monte (arranjos de bases) e do maestro José Briamonte (regência).
Influenciado por Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e pela soul music norte-americana, Di Melo formou seu caldeirão de ritmos que neste álbum flerta até mesmo com o tango ("Sementes"). A faixa conta com um dos bandoneonistas que acompanharam Astor Piazzolla.
Mas porque um artista tão bem acompanhado, que faz um disco com uma estética sonora refinada em uma grande gravadora, não gravou um segundo álbum? Di Melo conta que pintaram divergências entre o artista e os produtores em relação ao novos rumos de trabalho. Além disso, Di Melo não teve bagagem emocional suficiente para não se render às diversas "tentações" que a fama lhe proporcionou. "Na realidade, eu era muito moleque, estava mais na finalidade de viver e curtir. Eu não tinha uma patativa pra cuidar, e pintava mulherada, festa todo dia, altos embalos, e isso atrapalhou bastante. Além de perceber um boicote (da gravadora) contra mim. Eu peguei e pulei fora. Fui pro Recife para ficar oito dias e fiquei dez meses."
Nesta época, Di Melo teve canções registradas pelo cantor Wando, Jean Marcel e Jair Rodrigues. "Quando fui lá receber (o pagamento pelos direitos autorais) tinha 11 cruzeiros." A partir daí, Di Melo perdeu o entusiasmo e passou a trabalhar como marchand, sua principal fonte de renda até hoje.
Mas, para muitos, Di Melo está somente chegando. Gravou um disco em 1990 (Distando estava) com a banda de Belchior, pelo extinto selo do artista cearense, Camerati.
Durante a entrevista ao RadarCultura no dia 31 de agosto, que contou com a presença de Ramiro Zwetsch, do site Radiola Urbana, Di Melo afirmou que faz apresentações esporádicas e que possui mais de 400 novas composições, 12 delas em parceria com Geraldo Vandré, como "Linhas de alinhar", que apresentou ao vivo.
Abaixo, o trailer do documentário Di Melo, o imorrível, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro.
[ ] Em tempo. Agradecimento especial a DJ Paulão que colocou a equipe do RadarCultura em contato com Di Melo.
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar