Os computadores e as novas práticas de ensino

Experiências desenvolvidas em escolas estaduais e municipais espalhadas pelo país mostram que a conciliação entre as novas tecnologias e as práticas escolares pode render bons frutos, quando bem aplicadas.


Jaqueline Nikiforos Educação

20/05/11 18:08 - Atualizado em 15/06/11 13:08

computadores na salaO uso de netbooks – pequenos computadores portáteis – já se tornou fundamental em algumas salas de aula. Experiências desenvolvidas em escolas estaduais e municipais espalhadas pelo país mostram que a conciliação entre as novas tecnologias e as práticas escolares pode render bons frutos, quando bem aplicadas.

Desde outubro de 2010, os alunos do Ensino Fundamental I da Escola Municipal Professora Neyde Tonanni Marão, que fica no município paulista de Votuporanga, têm como parte do material escolar os pequenos computadores cedidos pelo projeto Um Computador por Aluno (UCA). Em São Paulo, a iniciativa é desenvolvida pelo governo federal em parceria com a Secretaria da Educação do Estado (See-SP).

O desafio de mudar

As mudanças provocadas pela chegada dos computadores à escola são sensíveis. “Antes de tudo, os professores tiveram de aprender a aprender para poderem ensinar”, conta Devanir Silva Sanches, diretora pedagógica da escola.

Para trabalhar em sala de aula com os computadores, os professores recebem treinamento coordenado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC). A diretora pedagógica explica que durante essa capacitação, o professor é apresentado a cada ferramenta que pode ser utilizada em diferentes atividades escolares.
Devanir relata que, no início, não foi fácil lidar com a nova prática. “Tínhamos um pouco de medo sobre como ia funcionar tudo, se ia funcionar”.  Mas aos poucos, o projeto foi sendo bem recebido pelos professores, conta a diretora. Isso aconteceu principalmente devido às mudanças positivas quanto ao aprendizado das crianças. “As crianças aprendem de uma maneira divertida. Elas adoram”, afirma.

Segundo a diretora pedagógica, o uso dos computadores estimulou as crianças a irem à escola. “Foi um ganho muito significativo para escola e para os alunos, principalmente porque a maioria não tem computador em casa”, relata. Uma pesquisa realizada pela escola constatou que apenas um em cada dez estudantes possuía computador até a implementação do projeto.

Como fica o trabalho do professor?

A mesma avaliação faz a professora Sara Luciene da Silva Garcia, que leciona na escola. Para ela, os computadores são ferramentas que auxiliam também no desenvolvimento do trabalho do professor.  “Vamos trabalhando os conteúdos da disciplina a partir de uma dinâmica que é estabelecida por nós mesmos. Quando essa dinâmica é bem sedimentada, os alunos têm mais interesse, buscam mais conhecimento, têm mais concentração e adquirem mais autonomia também”, explica.

Sara relata que, após a adoção do novo método, a escola conseguiu também diminuir a evasão escolar. O conselho da professora aos colegas de profissão que ainda são reticentes quanto ao uso de novas tecnologias em sala de aula é um só: “Usem sem medo”.

Tornar o estudo prazerosoUso de computadores em sala de aula 3

Outra experiência que tem gerado bons resultados é a que vem sendo desenvolvida na Escola Estadual Professora Paulina Rosa, em Hortolândia (SP), por meio do projeto Aula Fundação Telefônica. Implementado também com mediação da See-SP, o projeto levou para a sala de aula o modelo de tecnologia móvel conhecido por classmates, pequenos notebooks especialmente desenvolvidos para a área de Educação.

Edson Nascimento dos Santos, professor de Educação Física e um dos dinamizadores do projeto na escola, conta que o primeiro desafio ao receber os computadores foi entender o que estava sendo proposto, a fim de transformar o ambiente mais prazeroso. Caminhando nesse sentido, conta o professor, a escola conseguiu adequar de maneira proveitosa as práticas educativas ao uso da tecnologia.

Por meio do programa, a escola recebe um kit composto por um armário móvel que abriga 45 classmates destinados aos alunos e um notebook para o uso dos professores. Além disso, a escola também conta com um servidor e uma rede Wi-Fi, o que possibilita o uso dos computadores em qualquer área da escola.

O uso dos computadores já faz parte das aulas de todas as classes de Ensino Fundamental I a 3º do Ensino Médio. “Entendemos que a tecnologia é mais uma ferramenta de aula. Do mesmo modo que até ontem somente existia aula com giz e lousa, agora temos mais essa ferramenta. Hoje a aula pode começar na lousa, numa conversa e terminar com o aluno realizando uma pesquisa na internet, ou redigindo num editor de texto. O aluno pode mandar para o professor por e-mail, ou salvar direto na sua pasta no servidor”, explica Edson. 

Interação entre alunos e professores

O uso da nova ferramenta cobra uma nova postura do professor. Como esclarece Edson, é preciso ter clareza de que, a partir do momento que se introduz em sala de aula equipamentos que estão conectados com o mundo, o professor não é mais a única fonte de informação.

“O professor precisa estar preparado para isso. Quando fazemos um trabalho envolvendo a web, o aluno vai nos trazer respostas para quais podemos não estar preparados. Assim, precisamos nos colocar num papel mais de mediador do que de detentor da verdade definitiva. É mais importante ensinar ao aluno como achar as respostas do que fazer com que decore uma resposta. O professor deixa de ser o soberano, desce do pedestal e abre um canal de comunicação mais próximo ao aluno”, relata Edson. 

Segundo o professor, a implementação desse novo método de trabalho alterou também o modo como o conhecimento é construído durante o processo de aprendizagem. “Os alunos se ajudam mais. Há uma coletivização maior da construção do conhecimento, maior facilidade de interação entre eles”, conta.

Uso de computadores em sala de aula 2Colher os frutos e acertar os ponteiros

Ao adaptar o espaço e a estrutura de trabalho escolar à contemporaneidade, utilizando também outros códigos e linguagens que hoje são mais inteligíveis aos jovens estudantes, a escola se torna um espaço mais atraente. Edson relata que essa transformação influencia também no rendimento escolar dos alunos. “Os alunos têm se interessado mais pelas aulas e, assim, têm aprendido um pouco mais também. Melhora o rendimento do aluno, porque em algumas situações, torna as informações mais palpáveis, mais visíveis”, afirma.

Além da conquista quanto à melhora do rendimento escolar, a nova prática de aprendizagem tem obtido resultados que extrapolam os limites da sala de aula. Edson conta que bem perto da escola há uma lan house freqüentada usualmente pelos alunos, alguns dos quais trabalham no estabelecimento. O fato se tornou tema das conversas de corredor e reuniões de professores. Por quê? Segundo ele, os alunos têm relatado que após a adoção do uso de computadores pela escola não foi somente o método de trabalho em sala de aula que mudou, mas também a forma como as crianças navegam pela internet e para quais fins. “Antigamente, a garotada que ia pra lan house usava a maior parte do tempo em jogos online ou em comunidades de redes sociais. Hoje em dia não. Parte desse tempo eles também utilizam para realizar atividades educativas e outros tipos de pesquisa. O aluno está aprendendo que a web pode oferecer diversos tipos de informação”, relata o professor.

Mesmo com essas conquistas, Edson admite que a experiência precisa ainda de aperfeiçoamentos. “A maior dificuldade, em minha opinião, é preencher uma lacuna muito grande que houve na capacitação dos profissionais e que faz com que agora nem todos estejam aptos a trabalhar com a tecnologia. É preciso ensinar de novo o professor a trabalhar, mas será que todos estão dispostos a rever os métodos tradicionais, pelos quais ele fica replicando as informações? Será que ele está disposto a mudar?”, questiona. Para ele, há ainda um longo processo de sensibilização e formação de professores a ser construído.

(Fotos: acervo das escolas)

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