Cabu, Wolinski, Charb, chargistas mortos pela irreverência de seu traço

Um homem deixa mais uma vela em frente a um pôster com a caricatura dos chargistas Cabu, Charb e Wolinski com os dizeres 'Vítimas de seu sucesso' (em tradução livre), em uma homenagem realizada em Berlim no dia 7 de janeiro de 2015


07/01/15 17:25 - Atualizado em 07/01/15 17:25

Um homem deixa mais uma vela em frente a um pôster com a caricatura dos chargistas Cabu, Charb e Wolinski com os dizeres 'Vítimas de seu sucesso' (em tradução livre), em uma homenagem realizada em Berlim no dia 7 de janeiro de 2015

Paris (AFP) - O atentado contra a revista semanal satírica Charlie Hebdo deixou a França de luto, matando chargistas considerados ícones da imprensa do país, entre eles o diretor Charb, de 47 anos, e dois pioneiros do gênero, Cabu, 76 anos, e Wolinski, 80.

- Charb, corrosivo e militante -

Usando seu traço espesso como arma, Charb disparava para todos os lados. Guerra, política, televisão, doenças, religião... Nenhum assunto era tabu.

Diretor da revista Charlie Hebdo, Charb, em 27 de dezembro de 2012 em Paris

"No Charlie Hebdo, não temos a impressão de degolar ninguém com uma caneta", disse recentemente o cartunista ao se referir à forma com a qual à sua publicação tratava a questão do Islã. Desde maio de 2009, ele era o diretor do Charlie Hebdo.

Um das últimas caricaturas de sua autoria é de cruel ironia. "Ainda não teve atentado na França?", Pergunta um homem barbudo armado. "Aguardem, ainda temos até o fim de janeiro para apresentar os votos de Ano Novo".

O tom também mostra a forte personalidade de um homem engajado, que sempre foi destemido, mesmo vivendo sob proteção policial depois de ter sido alvo de um primeiro atentado, em 2011, quando a sede da revista foi incendiada.

Stéphane Charbonnier, vulgo Charb, nasceu no dia 21 de agosto de 1967, em Conflans-Sainte-Honorine, no subúrbio de Paris.

"Ele aprendeu a desenhar durante as aulas de matemática. Bem ou mal, acabou sendo menos pior em desenho do que em matemática", resumiu, sem perder o humor, a editora Casterman, onde publicava seus HQs.

Em 1991, Charb participou do lançamento de "Grosse Bertha", semanal satírico criado para a guerra do Golfe, cujo nome se referia a um grande canhão usado durante a primeira guerra mundial.

O chargista acabou deixando a revista um ano depois, com a maior parte da equipe, para participar do lançamento de Charlie Hebdo, que virou referência no jornalismo satírico francês.

Foi colocado sob proteção policial, após ter recebido ameaças de morte depois da publicação de caricaturas de Maomé. Seu nome e seu retrato figuravam, junto com outros oito, numa lista de personalidades "procuradas mortas ou vivas, por crimes contra o Islã", publicada em 2013 pela revista jihadista em inglês Inspire.

- Cabu, carrasco da besteira -

Com sessenta anos de carreira e mais de 35.000 desenhos, Jean Cabut, vulgo Cabu, foi um dos maiores cartunistas da história da imprensa francesa. Nascido no dia 13 de janeiro de 1938 em Châlons-sur-Marne, no centroeste do país, publicou suas primeiras charges com apenas 15 anos de idade. 

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