Jovens escritores: um desafio grandioso

Durante o mês de julho o cmais+ traz uma série especial sobre jovens escritores; e todos os finais de semana você vai conhecer pessoas embarcaram no desafio de contar suas histórias e sentimentos nos livros, blogs, redes sociais e até nos muros da cidade


Thábata Mondoni Especiais

01/07/11 14:46 - Atualizado em 01/07/11 16:35

SESSAO INDEPENDENTE - AMORES EXPRESSOS - SÃO PAULO - ANDRÉ  DE LEONESQual seria a idade ideal para se escrever um livro? Clarice Lispector provou que é possível começar cedo. Escreveu “Perto do coração selvagem” aos 19 anos. Nos tempos atuais também há jovens que ainda se interessam pela escrita e resolvem arriscar e mergulhar no mundo da literatura.  O escritor André de Leones decidiu fazer o seu primeiro livro aos 20. “Já rascunhava uns contos e, de repente, estava estruturando e depois desenvolvendo um romance. Quando fui revisá-lo pela primeira vez, vi que não funcionava e joguei fora. Continuei tentando nos anos seguintes, até que, aos vinte e quatro anos, pensei que um roteiro de cinema no qual vinha trabalhando (e que, eu tinha certeza, jamais filmaria) poderia render um romance. Foi assim que surgiu "Hoje está um dia morto", meu primeiro livro”, conta.

Antes de iniciar a sua jornada Leones já apreciava literatura, com quase 14 anos leu livros como "O Aleph", de Jorge Luis Borges, e "The Ghost Writer", de Philip Roth. “Na oitava série, uma professora pediu que escrevêssemos uns poemas. Foi por essa época que eu tomei gosto por poluir folhas de papel. Mais tarde, aos dezenove, vinte anos, rascunhei os primeiros contos e um suposto romance, que felizmente joguei fora. A lata de lixo é uma das melhores amigas que um escritor pode ter”.

Mauricio de AlmeidaO primeiro passo que parece “óbvio” para se tornar um grande escritor é ser primeiro um bom leitor. Tudo começa como expectador da história e elas, aos poucos, vão se refazendo na imaginação. Com Maurício de Almeida não foi diferente. Passar algumas horas em um sebo próximo de seu primeiro emprego o fez criar seus próprios contos. “Rascunhei um texto, outro, arrisquei até um mais longo e assim por diante”, relembra. Alguns deles ainda estão guardados em uma pasta velha.

André seguiu na linha dos romances, sempre profundos e até mesmo polêmicos. Já Maurício preferiu os contos, porque, segundo ele, foi o meio mais fácil para entender a linguagem literária. “A dinâmica do conto me proporcionou um domínio maior sobre começo, meio e fim. Além disso, o conto me dá a liberdade de experimentar. Por ser reduzido, posso arriscar algumas experiências formais”, — o que aparece bastante em seu primeiro livro "Beijando Dentes".  

Ambos os autores tomaram a decisão de escrever um livro sem imaginar a quê ponto chegariam. Uma palavra após a outra, uma frase em seguida. E depois de alguns meses, e até anos, lá estava a primeira obra.  Os dois receberam o Prêmio Sesc de Literatura, André em 2005 e Maurício em 2007. Para chegar lá foi preciso muita paciência, persistência e muitos rascunhos.

O autor de "Hoje está um dia morto" dá a dica para pretende fazer o mesmo: “tem que ter disciplina e muita, mas muita disposição para reescrever e reescrever (e depois reescrever mais e mais e mais), o romance vai saindo aos poucos”.
Já a publicação foi consequência de dois requisitos básicos do Prêmio Sesc: ter feito um bom trabalho e inscrevê-lo no concurso. No caso de André um amigo, já falecido, o inscreveu. “Eu achava que não conseguiria vencer um prêmio desses, de tal forma que foi uma surpresa muito grande quando, meses depois, recebi uma ligação e alguém me disse que Moacyr Scliar e Luiz Antonio de Assis Brasil tinham escolhido o meu livro, publicado no ano seguinte pela editora Record”.

A evolução e aprimoramento foi consequência do esforço. “No começo, eu era bem mais reativo. Depois, percebi que, a exemplo de qualquer outro meio profissional, o meio literário está repleto de gente que não faz a menor ideia do que está dizendo ou fazendo. Assim, consegui me distanciar um pouco do tiroteio e me concentrar mais no meu trabalho”. André explica que hoje consegue relevar mais uma critica negativa, pois sabe mal ou bem, ele continua escrevendo. “Não que antes, ao escrever e publicar o primeiro livro, eu não soubesse, mas hoje percebo certas coisas, intrínsecas e extrínsecas ao trabalho, com mais clareza. Isso traz certa tranquilidade”.

No segundo semestre deste ano André lançará o seu terceiro livro, o romance apocalíptico “Dentes Negros”. O autor conta que a intenção original era pegar esse gênero ou subgênero e ver o que conseguia fazer a partir dele, “até porque o fim do mundo é sempre uma boa ideia”. Mas os temas presentes em nos livros anteriores, como a violência e os laços familiares, aparecem com bastante força em "Dentes Negros".

“Atlântico-noite”, se o nome permanecer o mesmo, é o próximo de Maurício. Ainda não foi finalizado, mas deve ser lançado no ano que vem. O livro fala sobre um porre, se detendo em discussões o momento de transformação das coisas, “quando elas não são mais o que eram e, ao mesmo tempo, ainda não se definiram”.


Conheça os autores

André De Leones nasceu em Goiânia, em 1980. É autor do romance “Hoje Está um Dia Morto”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2005 e do romance  “Como Desaparecer Completamente” (Rocco).  Alguns de seus autores prediletos são: Thomas Pynchon, W. G. Sebald, Graciliano Ramos, Eugenio Montale, Maira Parula e Aharon Appelfeld.

Maurício de Almeida nasceu em Campinas em 1982. Formou-se em Antropologia pela (Unicamp). É co-autor das peças “Transparências da carne” e “No meio da noite”. Possui contos premiados na Mostra Off Flip, da Festa Literária de Paraty, e no Concurso Unicamp Ano 40. Estreou com “Beijando dentes” e com ele recebeu o Prêmio Sesc de Literatura 2007.

Veja também:

André de Leones fala sobre o seu segundo livro “Como Desaparecer Completamente” para o programa Entrelinhas

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