Cerca de 92% dos que envolvem bebidas alcoólicas são causados por motoristas do sexo masculino de baixa renda e escolaridade
Pesquisa realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da Universidade de São Paulo (USP) aponta que 92% dos acidentes de trânsito, envolvendo consumo de bebidas alcoólicas são causados por homens, de baixa renda (79,3%), e baixa escolaridade (52,4%).
Para a pesquisadora Carla Andrea Gondim Lemos, a prevalência do sexo masculino entre as vítimas de acidentes de trânsito, principalmente aqueles que envolvem álcool, “é fruto da cultura brasileira, pois os homens apresentam comportamento mais arriscado no trânsito e consumo habitual de álcool mais frequente que as mulheres”.
O estudo, que coletou dados no Hospital Público Universitário de Uberlândia, em Minas Gerais, entrevistou 279 pessoas vítimas de acidentes de trânsito que estavam internadas nas enfermarias de traumatologia entre os meses de abril e novembro de 2013. Dessas, 63 haviam consumido álcool antes do acidente.
Entre as vítimas de acidentes de trânsito predominaram homens, 82,4%, com média de idade de 34 anos e que cursaram o ensino médio, revelou o estudo. “Quanto aos acidentes que envolveram o consumo de álcool, a maioria envolveu motociclistas, 74,9%, e 88,9% dos causadores dos problemas haviam bebido cerveja”, conta a pesquisadora.
Bebedores de risco
Com a aplicação de um instrumento elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para identificação do uso excessivo de álcool (AUDIT), Carla também detectou que 41,6% dos entrevistados foram identificados como bebedores de risco. “O instrumento contém 10 questões que avaliam quantidade, frequência, embriaguez, sintomas de dependência e risco de consequências danosas ao usuário”, diz a pesquisadora, ao lembrar que a bebida traz danos para a saúde física, mental e impactos sociais para o indivíduo ou terceiros.
“Além disso, a maioria dos acidentes aconteceu nos finais de semana”, ressalta a pesquisadora, que vê o dado como fruto das atividades de lazer em que o consumo de bebidas alcoólicas é frequente. “A desatenção dos condutores que teoricamente encontram-se mais relaxados e as chances de desrespeitar as leis do trânsito em função do menor movimento das ruas também devem ser considerados”, completa a fisioterapeuta.
Carla fala que os impactos dos acidentes envolvendo bebidas alcoólicas não se limitam apenas a saúde das vítimas. Para ela, os custos sociais e econômicos produzem grande impacto para o País. “Temos que considerar que as vítimas mais frequentemente acometidas são homens, jovens e se encontram em plena atividade produtiva”.
A tese de doutorado Padrão habitual de consumo e uso de álcool: implicações em lesões por acidentes de trânsito em pacientes internados foi defendida em março de 2015 e orientada pela professora Margarita Antônia Villar Luis, da EERP.
Agência USP de Notícias
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