Documentário “A Lei da Água” alerta para os prejuízos do novo Código Florestal

Filme de André D'Elia e Fernando Meirelles revela que novas regras negligenciaram problemas apontados pela comunidade científica


Thábata Mondoni Jornalismo

20/03/15 12:12 - Atualizado em 20/03/15 12:50

a lei da água

Estamos no mês do Dia Mundial da Água, mas não há motivos para comemorar. Ela, que é um recurso fundamental para garantir a vida humana, de outros seres vivos e da natureza, está se esgotando. As previsões são negativas. Segundo a ONU, se não houver medidas emergenciais, 40% das reservas de água potável no mundo poderão encolher dentro de 15 anos.  

O Brasil, que já foi abundante em recursos hídricos, hoje se encontra entre os países que passam por uma crise de abastecimento. Políticos tiveram a oportunidade de mudar esse quadro, com a formulação do novo Código Florestal, mas especialistas ambientais dizem que o projeto só piorou a situação do país, contemplando apenas as necessidades da indústria e da agricultura. Ivan Valente, deputado federal (PSOL-SP), diz que “o Código Florestal não é um problema agrícola ou rural, ele é um problema nacional”.

Desmatamento - Filme a lei da ÁguaOs reflexos da nova lei no meio ambiente são tema do documentário "A Lei da Água", dirigido por André Vilela D'Elia e produzido por Fernando Meirelles. O título tem um tom irônico, pois se trata de um código que, em sua elaboração, deixou a água em último plano. No filme, Raul do Vale, advogado do Instituto Socioambiental (ISA), explica que “[O novo Código Florestal] passou uma mensagem à sociedade de que desmatar vale a pena”. Veja: Desmatamento na Amazônia teve aumento de 72% em janeiro.

Em tom de alerta, Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica, completa a análise de Vale, dizendo que “foram tantas as barbáries contra a natureza, que ela não vai ter como parar em pé”.



Socialização de prejuízos

O filme detalha, ponto a ponto, as mudanças no novo Código Florestal, e explica o que provocaram em todo o ciclo da natureza, começando pelo desmatamento, passando pela extinção de espécies, redução de oxigênio, até as baixas em reservas de água potável. André D'Elia mostra essa cadeia de forma dinâmica e eficiente.

Ao longo do filme, enquanto analisam o processo de escassez, especialistas denunciam que, durante a elaboração da lei, houve uma mobilização da comunidade científica alertando para os principais problemas que o novo código poderia provocar no meio ambiente - os cientistas reclamam que não foram escutados. 

Entre os pontos criticados pelo documentário estão a anistia para os produtores que devastaram florestas, a fusão das Áreas de Preservação Permanente (APP) às Reservas Legais, a redução das áreas de proteção em margens de rios e a desproteção das nascentes. Segundo ambientalistas, o que houve foi uma privatização dos lucros e uma socialização dos prejuízos. "O ser humano tem a incrível capacidade de achar que os recursos hídricos naturais nunca vão acabar”, destaca Pedro Ferreira Develey, biólogo do Save Brasil.

Futuro está na sustentabilidade

Apesar de tantas críticas, o filme mostra que ainda há uma saída. Conscientizar os produtores de que investir em sustentabilidade e reflorestamento poderia prolongar e até mesmo aumentar a produtividade. “Não existe incompatibilidade entre agricultura e preservação. Uma agricultura sábia preserva o meio ambiente e aumenta sua produtividade”, diz Antônio Nobre, doutor em ciências do sistema terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entenda: Desmatamento afeta balanço hídrico do cerrado e causa erosão.

Ao final do documentário, também é possível dizer que seu nome não é apenas irônico, mas essencial. Assim como é a água para a existência da vida. Seja humana, vegetal ou animal. Sob o título “A Lei da Água”, colocamos tudo em um só pacote, no qual um não existe sem o outro. Pois dizer que é uma lei implica, via de regra, um caminho para se continuar habitando esse planeta que chamamos de Terra.

Produzido pela Cinedelia, o documentário estreia no próximo dia 30 de março, via financiamento coletivo, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte. 

Confira o trailer: