Tive o privilégio de assistir a palestra de Edgar Morin e a entrevista de Zygmunt Bauman, no Fronteiras do Pensamento. Ao final, embora satisfeita, saí com dilemas decorrentes das posições complementares e antagônicas das duas visões sobre o futuro da Humanidade.

Bauman e Morin dividem algumas opiniões sobre os aspectos positivos (e negativos) da globalização e da contemporaneidade. A diferença das duas visões consiste em eleger para onde vamos a partir dessas visões.

Bauman, mais pessimista, nos aponta, face às incertezas da atualidade, a ausência da possibilidade de construção de um Projeto de Futuro. Aponta ainda outras recorrências: o divórcio da Política com o Poder, a supremacia dos princípios da produtividade e a dissolução da solidariedade e dos vínculos tradicionais.

Morin analisa a ambivalência da conexão global (ou “planetarização”, como prefere), mas aposta na crença, quase religiosa, da transformação positiva da Humanidade. Isto se daria a partir da nossa consciência da necessidade de resgatar laços e garantir diversidades culturais em contraposição à objetividade e racionalidade da produção capitalista.

Bauman, mais desencantado com os rumos da Humanidade, nos faz persistir na dúvida de saídas possíveis. Morin, por outro lado acredita numa Metamorfose para melhor (como sempre foi) apontando históricamente os momentos de transição desde os profetas até as crises econômicas. Além disso, e é essa uma diferença fundamental, faz uma pregação para nos estimular a construir o que ele chamou de mundo do bem viver.

Meu dilema consiste em acreditar nos fragmentos de projetos individuais ou continuar buscando, a partir das diferenças e das individualidades um projeto coletivo de futuro. Mas como repetiu Morin abandonemos os maniqueísmos e resgatemos o milagre da Metamorfose .

Seria o Projeto de Futuro reclamado por Bauman a próxima Metaformose prevista por Morin?  Só saberemos indo em sua busca.

Nadia Somekh é professora na FAU UPMackenzie, conselheira IAB/Conpresp, ex diretora FAU Mackenzie (2005/2009), ex presidente da EMURB (2002/2004). Autora do livro A Cidade Vertical e o Urbanismo Modernizador