Teatro para além das fronteiras geográficas

A primeira edição do Festival Cartográfico de Artes busca mapear produções, gerar encontros e atrair olhares para a efervescente potência criativa do interior do estado


Marcio Moraes, do cmais+ Arte & Cultura

23/07/15 15:23 - Atualizado em 23/07/15 15:24

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Responsável pelo festival, o Coletivo Cê é formado por artistas que pesquisam as linguagens do teatro e da performance (Foto: Tatiana Plens)

Porque haveria a necessidade de se realizar um festival cartográfico de teatro?  Nos dias 24, 25 e 26 de julho acontece a primeira edição do Festival Cartográfico de Artes, espaço de encontro de grupos e companhias de teatro da região metropolitana de Sorocaba, no interior de São Paulo. Para além do encontro, o festival nasce de uma necessidade de mapear as produções artísticas desenvolvidas no interior do estado e ampliar os horizontes da produção regional.

“É um solo muito fértil para se fazer arte”, pontua o produtor e ator Hércules Soares, do Coletivo Cê, grupo votorantinense de teatro, responsável pelo festival. O próprio grupo é um exemplo de resistência artística fora das grandes capitais, onde desde 2009 é sediado no interior do estado e vem ganhando a cada ano editais estaduais e prêmios. “Se a gente continua, entendo que no interior não há espaço para artes, que a gente precisa ir para São Paulo e que o interior continuará carente de fazedores de cultura”, diz o diretor do grupo Júlio Mello.

Além da apresentação de grupos e companhias de teatro de Sorocaba, Tatuí, São Roque e Pilar do Sul, a programação do festival também contará com vivências dos processos artísticos desenvolvidos atualmente pelo Coletivo Cê. Entre eles, o “Laboratório de Criação”, atividade junto aos alunos do projeto Simbiose; o ensaio aberto do processo cênico “Cunhãntã” e a abertura do processo de revisitação do espetáculo “Desterro”, primeiro trabalho cênico do coletivo que tem reestreia prevista para o segundo semestre desse ano no Sesc Sorocaba.

Para existir fora dos grandes centros, além de todas as dificuldades inerentes ao fazer teatral, há a necessidade de se provar, mapear sua existência entre os meandros dos CEPs e endereços distantes dos importantes (e bem documentados) centros artísticos das capitais. A existência de um festival cartográfico é um primeiro passo para uma organização em prol dessa visibilidade, que diz: Existe a possibilidade de se fazer teatro de pesquisa fora da capital. É um mito se tornando totem, e artistas, cada vez mais ávidos por encontros e trocas, mostram seus trabalhos em seus locais.

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Da experiência com a rua, o coletivo chegou ao tema de sua pesquisa no teatro: a memória e o teatro em relação com o espaço público (Foto: Tatiana Plens)

PROGRAMAÇÃO:

24 DE JULHO (SEXTA-FEIRA)

17h - Espetáculo "Seu Bonanza" - Nossa Trupe Teatral (Tatuí/SP) *

Sinopse: Em uma cela apertada, em meio a vários objetos vive o palhaço Seu Bonanza. O que o levou a prisão? Não se sabe... Com seus amigos de cela e seu acordeon, Bonanza vai matando seu longo tempo ocioso, esperando a oportunidade pra fugir de sua prisão... O espetáculo é uma comédia visual e sem texto (literário) e nos mostra a arte do palhaço de maneira simples e sensível.

Local: Rua Willian Snapp, s/n°, Bairro da Chave, Votorantim/SP

20h - Espetáculo "Através de Alice: sono, sonhos, soluços e suspiros" - Cia. de Eros (São Roque/SP)

Sinopse: A Companhia de Eros espera pela chegada de Alice. Enquanto a personagem mais famosa da literatura mundial não chega, eles brincam entre sono, sonhos, soluços e suspiros. Será que Alice vem?

Livremente inspirado em “Através do Surrealismo e o que Alice encontrou lá” de Adriana Peliano (Dissertação Mestrado USP, 2012).

Local: Auditório Municipal Francisco Beranger – Vereador Newton Vieira Soares, n° 291, Centro, Votorantim/SP

 

25 DE JULHO (SÁBADO)

09h - Laboratório de Criação com alunos do Projeto Simbiose do Coletivo Cê

Vivência junto às turmas de teatro do “Projeto Simbiose: Espaço Cê em Fluxo”, onde serão compartilhadas as experiências cultivadas, até o momento, nas aulas semanais. Além do compartilhamento de questões ocorridas durantes as aulas semanais, o encontro contemplará a prática de estudos dos “códigos cênicos” que compõem a prática teatral. Aberto para todas as idades.

Local: Espaço Cê - Rua Orélio Verlangieri, s/n°, Bairro da Chave

16h - Espetáculo "Rua sem saída" - Nativos Terra Rasgada (Sorocaba/SP)*

Sinopse: "Rua sem Saída" é um espetáculo teatral de rua que faz uma "despretensiosa" comparação entre cidade e cemitério. Uma brincadeira entre os mundos, abordando questões dos vivos, seres urbanos, que sobrevivem com a fome, sem a moradia, sem a saúde e outras necessidades básicas. Os mortos eternizados em suas relações institucionais, reproduzem seus hábitos e tentam repelir tudo que é vivo, mutável. As diferenças entre os mundos geram um conflito de interesses e questões como ética, filosofia, religião e relações de poder são postas à prova movendo os vivos e os mortos, promovendo mudanças! Uma comédia com uma dose de fantasia de 55 minutos de duração, com músicas ao vivo e uma séria discussão sobre onde vamos parar.

Local: Praça de Eventos de Votorantim – Avenida 31 de Março, Votorantim/SP

21h - Ensaio aberto do processo cênico “Cunhãntã” - Coletivo Cê (Votorantim/SP)

O experimento compõe o processo de investigação cênica Cunhãntã, realizado pelo Coletivo Cê, desde 2014, que transita entre as linguagens da performance, do teatro e da dança. Em cena, as marcas das atrizes se enredam às de outras mulheres. Figuras femininas se trançam como fios e criam, em rede, um território de individualidades díspares por onde as atrizes têm autonomia para escolher transitar. O objetivo é se deixar atravessar, a cada apresentação, e dar voz àquilo que for mais urgente.

Local: Espaço Cê - Rua Orélio Verlangieri, s/n°, Bairro da Chave

 

26 DE JULHO (DOMINGO)

16h - Espetáculo "Janelas" – Grupo de Teatro Escarafunchar (Pilar do Sul/SP)

Sinopse: O espetáculo “Janelas” do Grupo de Teatro Escarafunchar fala do ser humano e da sua relação com as possíveis janelas que ele pode criar e descobrir durante sua vida. A janela é uma abertura, uma possibilidade para o novo, para aquilo que está distante ou não de nós. Ela pode ser uma memória, um desejo ou um fato. É um espetáculo criado a partir de materiais não dramáticos onde imagens, poemas, frases e notícias serviram como modelo de ação para a criação das cenas desconexas.

Local: Auditório Municipal Francisco Beranger – Vereador Newton Vieira Soares, n° 291, Centro, Votorantim/SP

20h - Abertura de processo de revisitação do espetáculo "Desterro" - Coletivo Cê (Votorantim/SP)

O processo de revisitação do espetáculo "Desterro" (trabalho que deu origem ao coletivo, em 2009) cria um jogo entre a narrativa original e as realidades atuais (a do coletivo e a das suas individualidades), em que temas como a morte, a ausência, a ação do tempo sobre as coisas e as pessoas e as "impossibilidades de dizer" se misturam, se atravessam e se interrompem, no encontro entre ficção e realidade, como forma de desembaçar as vidraças de uma pequena "casa", para que esta se transforme em família, cidade, mundo... num contexto que nos apresenta a necessidade preemente de construir outras possibilidades de habitar a vida, de estar presente, vivo a atento. De continuar, apesar das ausências, apesar dos muros, apesar dos nãos, apesar do peso do passado, apesar do indizível.

Local: Auditório Municipal Francisco Beranger – Vereador Newton Vieira Soares, n° 291, Centro, Votorantim/SP

* Em caso de chuva a apresentação acontecerá no Espaço Cê - Rua Orélio Verlangieri, s/n°, Bairro da Chave (ao lado da Cachoeira da Chave)

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