Tragicomédia nos bastidores

Birdman presta homenagem ao teatro com a história de um ator decadente


Luís Antônio Giron, do cmais+ Cinema

27/01/15 16:19 - Atualizado em 28/01/15 18:07

Birdman
Michael Keaton em Birdman, dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu (Foto: Divulgação)

O longa-metragem Birdman ou a inesperada virtude da ignorância é um dos grandes concorrentes ao Oscar, ao lado de Grande Hotel Budapeste e Boyhood. Está indicado para nove estatuetas, inclusive Melhor Filme, Diretor e Ator. Isso porque se trata de uma bela tragicomédia sobre bastidores do teatro dirigida pelo mexicano Alejandro González Iñárritu, com uma grande atuação de Michael Keaton e o trabalho magnífico do fotógrafo mexicano Emmanuel Lubezki (o mesmo do inovador Gravidade, de Alfonso Cuarón, grande vencedor do Oscar 2014).

O filme impressiona também pela forma como capta o palco, os camarins e as coxias do venerável St. James Theater, localizado desde sua fundação, em 1927, no Times Square em Nova York.  São poucas as produções cinematográcias ambientadas no teatro que conseguem fugir da forma tradicional. Não raro, os filmes sobre o teatro mergulham de tal forma nesse universo, que passam a se plasmar no teatro. E filmes se tornam peça. Um exemplo é A malvada, de 1950. Os diálogos são tão fascinantes e o prédio do Curran Theatre de San Francisco é tão dramático que o filme se converteu na melhor peça de teatro já filmada. Não é absolutamente o caso de Birdman, um filme que de alguma forma se afasta do modelo do palco italiano e arrasta o espectador para o labirinto do St. James – ali mesmo onde os elencos se engalfinham em delírios de vaidade e depressão.

Curiosamente, a trama do filme é uma as mais surradas da literatura: ator decadente tenta uma última investida para resgatar a reputação. Ou melhor, para obter um prestígio que sua longa carreira não o qualificou para tanto.  O ator, Riggan Thomson, interpretado por Michael Keaton, é famoso pelo papel de super-herói Birdman no cinema. Próximo dos 60 anos e sem mais o physique du rôle para viver o super-herói, ele monta uma peça na Broadway, com ajuda da filha, a produtora Sam, interpretada por Emma Stone. Nessa peça que pode salvar a vida a carreira de Thomson, ele naturalmente é o protagonista, além de dramaturgo e diretor.

Sua peça se baseia em um conto do autor americano Raymond Carver, intitulado What we talk about when We talk about love  (Do que falamos quando falamos de amor). É uma montagem pretensiosa e muito mais ambiciosa que Thomson poderia imaginar. Ele comove justamente porque mostra sua infinita ignorância em relação à literatura e à adaptação de um conto para o formato do drama. De fato, os atores emocionam o público por sua extrema ignorância pretensiosa. Assim, em meio a equívocos e ambições exageradas, Thomson se joga no palco junto com suas frustrações e invejas. E se defronta com um ator melhor que ele, Mike (Edward Norton), além de igualmente frustrado e excêntrico.

A tensão dramática se junta ao ambiente decrépito do teatro, que se encolhe ainda mais por estar ao lado de imensos arranha-céus da Manhattan do século XXI. Até que ponto o teatro é uma arte transcendente e consagradora diante das transformações comportamentais e tecnológicas dos nossos dias? Eis aí a pergunta que Iñárritu faz ao espectador – e que torna Birdman uma pequena obra-prima.

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