Sony cancela o lançamento do filme A Entrevista

Comédia que tem o ditador da Coreia do Norte Kim Jong-un morto ao som de Firework, de Katy Perry, estava previsto para estreiar dia 25 de dezembro


Ana Carolina Surita, do cmais+ Cinema

19/12/14 16:59 - Atualizado em 19/12/14 17:13

a entrevista
Um país com um regime extremamente fechado e com uma sequência de líderes autoritários, esta é a Coreia do Norte. Segundo registros oficiais do país, as famílias desses ditadores são no mínimo prodígios: o ‘grande’ líder Kim Il-Sung (1948 – 1994) escreveu 1,5 mil livros em um período de três anos e ainda compôs seis óperas completas. De acordo com os mesmos registros, seu filho, Kim Jong-il, teria aprendido a andar com três semanas de idade e havia começado a falar com oito semanas.

Podemos até pensar que essa e muitas outras histórias bizarras desse país asiático dariam um roteiro de comédia. E deu. Mas, a liberdade de expressão foi cerceada. No fim de novembro, o sistema dos estúdios da Sony Pictures foi invadido e cinco filmes inéditos foram vazados na internet por cibercriminosos, além de e-mails comprometedores que envolviam algumas personalidades como Angelina Jolie e Barack Obama.

Para a empresa, o ataque teve como ponto de partida o filme A Entrevista, uma comédia em que os atores Seth Rogen e James Franco interpretam dois jornalistas recrutados pela CIA (agência de inteligência americana) para assassinar o presidente norte coreano Kim Jong-un.

A produção não agradou nem um pouco o ditador, que ameaçou publicamente os autores do filme. Num primeiro momento, a investigação interna da Sony acreditava que a Coréia do Norte estaria por trás do grupo que hackeou os estúdios, os Guardians of Peace (Guardiões da Paz, em inglês), que seriam formados por hackers que operam na China, mas essa suspeita foi descartada pelo FBI.

Os mesmo hackers que invadiram os computadores fizeram ameaças terroristas ao público do filme e aos cinemas. Numa das declarações, citaram o atentado do dia 11 de setembro, e pediram para as pessoas não comparecerem na estreia e nem ficarem próximas aos locais que estrearem a obra.

Por conta disso, a Sony cedeu aos hackers. O estúdio anunciou que “não temos mais planos de lançamento para o filme. A menos que algo mude, ninguém vai ver A Entrevista, somente alguns trechos na internet". As cinco maiores cadeias de cinema norte-americana também desistiram de exibir a produção.

Normalmente, as negociações de estreia entre os exibidores e os estúdios de Hollywood acontecem meses antes do filme ir parar nas telonas. As ameaças também iriam afetar a circulação de clientes nos cinemas e shoppings, por isso a negativa dos cinemas em relação à estreia. Os atores que interpretam os jornalistas também cancelaram uma série de eventos de divulgação.

Depois da notícia do cancelamento, artistas, escritores e autoridades falaram sobre o assunto. “Com o colapso Sony, a América perdeu a sua primeira guerra cibernética”, declarou o analista político Newt Gingrich. O escritor brasileiro Paulo Coelho se ofereceu a pagar US$ 100 mil à Sony pelo direito de publicar o filme gratuitamente na internet. Em entrevista ao Uol, ele explica: "Eu acho uma ameaça a qualquer artista em qualquer lugar do mundo. Na minha juventude acompanhei o caso de Salman Rushdie (autor do polêmico livro Versos Satânicos). Os editores suspenderam, mas depois resolveram publicar. Foi um horror. Teve editor assassinado, teve livraria queimada, mas a liberdade de expressão foi mantida. A Sony abriu um precedente terrível". O ator Rob Lowe citou Neville Chamberlain (político conservador britânico que praticou uma política de não agressão em relação aos ditadores fascistas Mussolini e Hitler): “Hollywood fez Neville Chamberlain orgulhoso hoje”.

A campanha para que a Sony divulgue o filme na internet não para. Bryan Bishop, do site The Verge, sugere que este caso pode ser interessante porque pode surgir um novo formato de distribuição e ter a descoberta se vale a pena, ou não, fazer uma estreia virtual.

Para quem ficou curioso em ver trechos do filme, vale ver uma parte da produção, que tem até morte do ditador ao som da música Firework de Katy Perry.

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