Contos de 11 escritores brasileiros foram estampados e ilustrados em 500 pipas que sobrevoaram o céu da comunidade de Santa Marta, no Rio de Janeiro, na última semana de abril. Os papagaios, raias ou pandorgas, como são conhecidas no Sul, caíram sobre o morro e foram perseguidas por aproximadamente 250 crianças, as quais puderam ler trechos dos textos vindos “do céu” e locar livros doados por seus autores na biblioteca local. Trata-se da ação Céu de Histórias, desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro em parceria com a agência Salles Chemistri, que visa despertar o interesse de jovens pela leitura.

Participaram da ação o escritor e cartunista Ziraldo, o novelista Benedito Ruy Barbosa, os escritores Pedro Bandeira, Ana Maria Machado, Leo Cunha, Roseana Murray, Sylvia Orthof, Fernanda Coelho, Claudio Fragata e Gustavo Vilela.

Segundo Zoara Failla, gerente executiva de projetos do Instituto Pró-Livro, o objetivo é motivar, de forma lúdica, a percepção positiva do público infanto-juvenil em relação ao hábito de ler, hoje excessivamente vinculado à escolaridade, conforme aponta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2012, também coordenada por Failla junto ao IBOPE. “Geralmente, só leio o livro que o colégio manda. E só pego um livro para ler quando não tenho nada para fazer”, afirma Alice Vitória, de 8 anos, que apanhou uma das pipas.

Para se ter ideia, entre a mostra de entrevistados que estuda, o percentual de leitores é três vezes superior ao de não leitores: 48% versus 16%. Já entre os que não estão na escola, a parcela de não leitores é cerca de 50% superior ao de leitores, isto é, 84% versus 52%. Vale lembrar que são considerados leitores aqueles que consumiram, inteira ou em partes, pelo menos uma obra nos últimos três meses.

O desinteresse dos pequenos, de acordo com Failla, é explicado por algumas razões: a falta do hábito de ler dos pais e familiares, o baixo estímulo de algumas instituições de ensino e, principalmente, a chegada das redes sociais e aplicativos sugadores do tempo e da atenção de crianças e adultos. “Não adianta repetirmos os modelos das gerações passadas, que se interessavam bastante por romances, por exemplo. É preciso que haja uma adaptação ao novo cenário, precisamos falar a língua dos mais novos e atraí-los com recursos modernos, fazendo uso de tecnologias”, explica Failla, que prevê números ainda mais baixos na próxima edição de Retratos da Leitura, prevista para 2015. E completa: “Apesar disso, existem autoras queridas pelos adolescentes, como a Thalita Rebouças. Neste caso, blogs e grupos online organizados por jovens discutem os seus livros. Existe esperança”, conta entusiasmada.

Diante deste cenário, a boa notícia é que o Instituto Pró-Livro estuda realizar novas ações com o perfil de Céu de Histórias. “Juntar pipa, que é o que eles gostam, com literatura é um casamento perfeito”, diz o líder comunitário Gilson Silva. Na tarde da última quinta-feira (7), o ator e escritor Gregorio Duvivier também comentou a iniciativa em sua página no facebook: “Taí um projeto lindo. A pipa passou de diversão a símbolo do narcotráfico. Precisa voltar a ser o que era. Aí vem esse pessoal e enche a comunidade de pipa e - como se não bastasse - de literatura. Parabéns a todos os envolvidos”.

Veja alguns dos modelos que voaram por Santa Marta: