Orquestra Sinfônica Estatal Russa dá uma festa de timbres

No primeiro concerto da temporada do Mozarteum Brasileiro, o maestro Terje Mikklsen e comandados deram vida nova a surradas peças eslavas


Luís Antônio Giron, do cmais+ Espetáculos & Cia

14/04/15 16:29 - Atualizado em 14/04/15 16:46

Terje Mikklsen (Foto: Reprodução)
O maestro norueguês Terje Mikklsen durante ensaio (Foto: Reprodução)

O primeiro concerto da Orquestra Sinfônica Estatal Russa, segunda-feira na Sala São Paulo, na abertura da Temporada 2015 do Mozarteum Brasileiro, foi maravilhoso em sua candura. Os 43 músicos, regidos pelo norueguês Terje Mikklsen, mostraram a diferença do modo de interpretação sinfônica russa em relação à ocidental.

O concerto pode ser definido de um festa de cor, fluidez, lirismo e ênfase como nenhuma orquestra ocidental seria capaz de produzir com o repertório eslavo. “Um festim de timbres”, afirmou, extasiado, o crítico Irineu Franco Perpetuo. De fato, a orquestra surpreendeu pela espontaneidade com que lidou com um programa bastante desgastado pelo uso de gerações de intérpretes.

Ela executou o Concerto para violoncelo e orquestra, de Antonin Dvorák, e a Sinfonia nº 4, de Piotr Ílitch Tchaikósvski. Quantas vezes não ouvimos essas partituras românticas? No entanto, Mikklsen e orquestra conseguiram fazer com que audiência tomasse contato com detalhes pouco explorados pela maioria das orquestras.

Em primeiro lugar, a atmosfera relaxada. Os músicos de orquestra não disfarçam a tensão quando interpretam peças longas e difíceis – que são longas e difíceis porque ele as interpretam assim. Os russos tocaram como se cantassem, como se assobiassem com a alma cada passagem. Com isso, por exemplo, fizeram do “pizzicato” do terceiro movimento da Quarta de Tchaikósvski um episódio inesquecível pelo uso da dinâmica e da sutileza. Poucas vezes essa passagem foi tocada com tanta sensibilidade. A flutuação das dinâmicas foi conduzida como se fosse um fenômeno natural.

O segundo fator inaudito foi o emprego da cor. O jogo dos timbres se revelou equilibrado, como se a orquestra se convertesse num grande conjunto camerísticos. O jogo dos sopros, da percussão e das cordas esbanjou beleza, concórdia e variedade. Nas orquestras alemãs, por exemplo, os instrumentos parecem trabalhar no sentido da saturação das cores, como se todos os sons se chocassem em uma espécie de mistura indistinta. Os russos revelaram que é possível sustentar a orquestração esfuziante dos dois compositores do princípio ao fim.

Um som poderoso e delicado a um só tempo, capaz de fazer o público sorrir e se comover. Não se fazem no Ocidente orquestras calorosas e soltas como essa. Dizem que os músicos se alcoolizaram tanto nos voos de Moscou para São Paulo que foram expulsos do avião da British Airlines. Se eles embriagaram na viagem, pelo menos chegaram em perfeita forma para inebriar a plateia. Que bebam a santa vodca da grande arte por muitos anos.

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