Invencível, um épico três em um

O filme de Angeline Jolie mistura com sucesso atletismo, naufrágio e prisão na Segunda Guerra Mundial


Luís Antônio Giron, do cmais+ Cinema

14/01/15 17:21 - Atualizado em 15/01/15 12:14

INVENCÍVEL (Foto: Divulgação)

Em 4 de junho, Angelina Jolie completará 40 anos. Isso deve ter contado para que uma das atrizes mais bonitas do cinema atual tenha anunciado que vai ficar atrás das câmeras a partir de agora. A decisão pode ser um golpe nos olhos do espectador, mas chama a atenção para o talento de Angelina como diretora. Ela pretende nos dizer que está no auge não só da beleza, como da inteligência. E os fatos só comprovam tal intenção. Em seu terceiro longa-metragem, Invencível, ela conta com mão firme uma história de guerra que faz sucesso mundial e estreia agora no Brasil.

Trata-se do trabalho mais ambicioso de Angelina. A produção de US$ 65 milhões já se pagou. O filme estreou nos Estados Unidos no final de 2014 e arrecadou US$ 102 milhões, ocupando a quarta posição entre os filmes mais vistos no país no mês de janeiro. A carreira internacional promete ser maior, como acontece hoje com as produções de Hollywood, que costumam arrecadar 70 por cento das bilheterias no mercado externo. Invencível conquistou a mainstream.

Antes da superprodução, Angelina havia dirigido o documentário A place in time (2007) e o drama de guerra Na terra de amor e ódio (2011), projetos bem realizados, embora de baixo custo e baixa repercussão. Com Invencível, Angelina elevou o drama de guerra à condição de superprodução épica. Ao longo de 2 horas e 17 minutos, sucedem-se cenas espetaculares e efeitos visuais, em competições olímpicas, batalhas aéreas e sequências de tortura e cativeiro. Há poucos momentos intimistas – e, anda assim, quase desprovidos de tensão amorosa.

O roteiro resulta da adaptação do livro Invencível, de Laura Hillenbrand, best-seller de 2010 e agora lançado no Brasil pela editora Objetiva. Com 40 capítulos distribuídos por 534 páginas, ele narra as aventuras do americano Louis Zamperini (1917-2014). A vida de Louie, como era conhecido, forneceria material para vários filmes. Ele nasceu em uma família pobre de imigrantes italianos na Califórnia, destacou-se na escola como corredor, competiu na Olimpíada de 1936 em Berlim, lutou como tenente da aeronáutica na Segunda Guerra Mundial, seu avião foi abatido no Oceano Pacífico em 1943, permaneceu 47 dias à deriva em um bote com outros dois sobreviventes, até ser resgatado pelos japoneses, que o encarceram por dois anos. Aos 80 anos, voltou ao Japão depois de cinco décadas, carregando a tocha olímpica.

Claro que a teve de ser resumida de maneira drástica. A tarefa ficou a cargo dos roteiristas Joel e Ethan Coen, Richard LaGravenese e William Nicholson, que adaptaram a biografia para o cinema. O resultado é que as partes inicial e final da vida de Louie se aceleram, ao passo que o miolo das aventuras recebem uma vagarosa atenção por parte de Angelina.

“Sobrevivência, persistência, redenção”, diz o slogan do livro e do filme. Um síntese exata do filme. Ou dos filmes, porque o épico de Angeline pode ser descrito como “três em um”: conta a superação de um corredor, a resistência de um náufrago e o heroísmo de um prisioneiro de guerra. Há ainda uma semelhança subjacente entre o roteiro de Invencível e o do filme Furyo, em nome da honra (1983), de Nagisa Oshima. Os dois apresentam o confronto entre Ocidente e Oriente na figura de dois soldados inimigos que se atraem. No caso de Invencível, Louie, vivido pelo ator inglês Jack O’Connell, é torturado por um apaixonado oficial Watanabe, interpretado – histrionicamente, aliás, - pelo ator japonês Takamasa Ishihara. Mas a relação de amor e ódio dos dois, bem explorada por Oshima, fica na superfície com Angelina. 

Mesmo assim, Jack O'Connell interpreta Louie com delicadeza e certa bravura. Além de lembrar muito o jovem Frank Sinatra, ele convence na expressão de sentimentos contraditórios, como ódio e piedade, desejo e resignação. E nisso é apoiado por Angelina, que se revela uma excelente diretora de elenco. A diretora também teve o cuidado de manter o padrão físico dos atores e o visual de época. Tudo isso ganha relevo na fotografia deslumbrante do inglês Roger Deakins, famoso por trabalhos com os irmãos Coen, como Fargo (1996) e  Onde os fracos não tem vez (2007). A sequência da Olimpíada de Berlim é fiel ao estádio original e faz lembrar o monumentalismo da cineasta nazista Leni Riefenstahl. Há muitos efeitos especiais nas  competições e batalhas aéreas. Mas eles se submetem à trama, sempre nítida e atraente. Invencível não é o melhor filme do mundo, mas certamente é o melhor filme de Angelina Jolie. Pena que, em nome do rigor, ela não tenha feito nem uma pontinha nele.

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