Espetáculo Uma Noite em Buenos Aires volta a São Paulo para apresentações no Teatro Bradesco

Shows deste fim de semana destacam o tango liderado pelo bandoneón do celebrado maestro argentino Carlos Buono


Felipe Tringoni, do cmais+ Música

27/03/15 09:43 - Atualizado em 27/03/15 12:21

Uma Noite em Buenos Aires (Foto: Christianne Poladian)

O espetáculo Uma Noite em Buenos Aires, que completa 40 anos excursionando e apresentações em vários países, encerra a etapa brasileira de sua nova turnê internacional com apresentações em São Paulo neste fim de semana.

A montagem passa pelo palco do Teatro Bradesco neste sábado (28) e domingo (29) depois de apresentações em Novo Hamburgo, Porto Alegre, Natal, Fortaleza e Manaus.

Com direção musical do maestro e bandoneonista Carlos Buono, Uma Noite em Buenos Aires conta com o grupo Tango Sinfônico, formado por maestros integrantes de orquestras sinfônicas. Fazem participações especiais os celebrados cantores Alberto Bianco e Monica Sacchi, em interpretações de temas clássicos do cancioneiro popular argentino, como “Mi Buenos Aires Querido” (música de Carlos Gardel e letra de Alfredo Le Pera). No palco, a dança fica por conta do Ballet Internacional Tango Mayor e dos atuais campeões mundiais de tango, Guido Palácios e Florencia Castilla.




O espetáculo é fruto da parceria de Buono com Manoel Poladian, produtor que mantém o show há 40 anos e, desde 1999, confere a direção musical ao bandoneonista de Buenos Aires - bastante conhecido internacionalmente pelas excursões como convidado especial do maestro, violinista e superstar holandês André Rieu, além de apresentações ao lado de orquestras sinfônicas europeias como a de Roma e a portuguesa Orquestra do Norte.

Aos 72 anos, Buono parece incansável. Somente dirigindo Uma noite em Buenos Aires, já esteve 23 vezes no Brasil, cada uma delas apresentando o espetáculo cerca de 12 vezes. O mesmo ritmo se mantém nas viagens de seu grupo pela Europa. "Conheço bem o Brasil", diz. Nesta entrevista, ele fala ao cmais+ sobre detalhes das apresentações de Uma noite em Buenos Aires, sua devoção à obra do lendário compositor Astor Piazzolla, sua relação com o Brasil e como mantém o ritmo depois de tantos anos de estrada.

cmais+: Como teve início sua participação em Uma noite em Buenos Aires?
Carlos Buono: Eu voltava de shows no Japão em 1999 e havia chegado material dessa turnê às mãos da produtora de Manoel Poladian. Então ele me ligou em Buenos Aires e me enviou passagens. Eu sabia quem ele era, mas não o entendia bem. Me perguntou: o que você gostaria de fazer? Respondi que gostaria de dirigir um espetáculo de tango. Ele disse: tenho Uma noite em Buenos Aires. Eu sabia que era muito famoso, mas fazia tempo que ele não produzia. “Traga um projeto do que você tem em mente”, me disse. E assim começamos.

cmais+: Como se dá o trabalho de direção musical?
CB: Penso que minha participação trouxe um pouco de modernidade ao show. Ele (Poladian) sabia que eu tinha sido diretor por muitos anos do Michelangelo, do Viejo Almacén (célebres casas de tango em Buenos Aires)... Isso me dava muita experiência em shows. Algo que eu sempre tive em mente era um grupo estável, um musical forte, e ir variando as figuras convidadas, que dão riqueza distinta e permitem que o público que assistiu ao espetáculo em outubro, veja agora algo totalmente distinto. Mas sempre está presente um grupo de músicos muito profissionais, músicos de orquestra que conhecem muito o tango.

cmais+: Há algum método para a escolha das canções do show?
CB: Há uma liberdade muito grande no que se refere ao trabalho do solista. Por exemplo, agora vem como solista convidado um bailarino de folclore, especialista em sapateado. Normalmente o artista, em seu bloco, tem liberdade, sempre dentro do que penso como show. O acompanhamento musical não é muito tradicional, é moderno. A forma que trabalho é, uma vez que tenho os artistas convidados, faço o esquema de homenagens do show, sempre com uma ou duas homenagens. Neste caso, há uma homenagem a Piazzolla, que, bom, faço sempre porque desde que estive com André Rieu como músico convidado – e ainda estou –, tivemos grande sucesso com gravações de “Adiós nonino” e “Libertango” (os vídeos no YouTube têm milhões de visualizações). Não fazer esses temas é um pecado. E outra homenagem, neste caso, é a Gardel. E homenagear Gardel não é difícil, ele tem uma grande quantidade de canções: “El día que me quieras”, “Mi Buenos Aires querido”, “Por una cabeza”... Escolhendo um ou dois temas posso fazer algo artisticamente interessante.

cmais+: Além de Piazzolla e Gardel, quais outros compositores argentinos admira?
CB: São muitos. Interpretamos canções de Mariano Mores, Juan Carlos Cobián. Me dou o gosto de visitar compositores distintos. O que acontece é que isso sempre é feito por uma formação que tem um estilo e uma forma de tocar. Mas não nego que, inclusive quando atuo com orquestras, como a Sinfônica de Roma, minha forma de execução é popular. Me dou conta, porque chama a atenção. Não sou muito elitista. Gosto de tango, e quando toco com orquestras me sinto igual, para mim não há diferença.

Carlos Buono (Foto: Hernan Brusa)
Carlos Buono (Foto: Hernan Brusa / Divulgação)

cmais+: O tango é uma música popular em sua origem, não?
CB: Totalmente. Um exemplo: quando me apresentei com a Orquestra de uma Rádio e TV alemã, tive que tocar “La Cumparcita” e “Oblivion”, de Piazzolla. Nos ensaios, chamava a atenção dos músicos o meu fraseado, que é como o swing do jazz, algo muito difícil de descrever. E me dei conta, quando comecei a ir a Europa, que isso era algo que os encantava. Era como trazer um pouco de frescor à música clássica. Eu tocava Piazzolla como se estivesse em uma casa de tango à noite. Sempre respeitando as orquestras sinfônicas. Seguiram me chamando porque isso os agrada muito.

cmais+: Como é a recepção do público brasileiro às apresentações?
CB: Me falaram sobre a “velha rivalidade” dos países vizinhos... A rivalidade pode ser no futebol – e nem sei se é tanta assim –, mas existe uma admiração do brasileiro ao que é argentino, fundamentalmente ao tango. Vejo todas as noites quando estou na direção do Michelangelo ou do Viejo Almacén. Por outro lado, se você soubesse a admiração que os músicos de nosso grupo têm não só por Vinicius, Jobim, Chico Buarque... Por Hermeto Pascoal! Um dia o encontramos no aeroporto do Rio, eu peguei o bandoneón e ele pegou o acordeon. Foi uma maravilha! Até hoje comentamos. Há uma admiração profunda. Também já acompanhei Maria Creuza no Michelangelo. Sou um músico de tango, não vamos nos enganar, mas me dei conta de que tudo o que faço, faço com a mesma sonoridade, não apenas pelo aspecto comercial. Talvez seja isso que me dê projeção internacional.

cmais+: Há algum segredo para tantas apresentações de grande porte mundo afora?
CB: Há uma série de questões. Primeiro, a saúde: tenho que estar bem fisicamente. Segundo, uma forma de tocar que não seja nunca buscada. É um som que foi me buscando. Tenho formação clássica de estúdio e, ainda que pareça mentira, sempre fui um tipo bastante inibido, estudei muito quando pequeno porque era retraído. Com a música, me tornei desinibido, gosto de falar e o palco pra mim é minha vida. Isso, com 72 anos, é o que me possibilita tocar. Mas não é um som que busquei, é o som que me encontrou. Tenho medo de quando não possa fazer mais.

No player abaixo, Carlos Buono deixa um convite aos paulistanos para as apresentações de Uma noite em Buenos Aires no Teatro Bradesco. Ouça:



Confira mais informações sobre o espetáculo Uma noite em Buenos Aires no Guia da Cultura.
 

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