“Depois dessa experiência sou outra pessoa”, diz diretor do filme Cássia Eller

Paulo Henrique Fontenelle descreve o processo de produção do longa que mergulha na história da cantora e fala sobre a transformação sentida durante as gravações


Rita Albuquerque, do cmais+ Cinema

26/01/15 17:18 - Atualizado em 27/01/15 11:06

Cássia Eller
Cássia Eller e Eugênia, companheiras por 14 anos, celebram o pequeno Chicão (Foto: Reprodução)

É pela voz de Malu Mader que os escritos de Cássia Eller chegam aos ouvidos de quem assiste à história de vida da cantora. Tocantes. Sinceros. Menos tímidos que a carioca nascida em 10 de dezembro de 1962. Para sobreviver a uma sociedade por vezes assustadora aos olhos mais sensíveis, Cássia mergulhou na música, tornando-a a razão de tudo, a sua verdade, a fuga. “A música me comanda. É a minha maneira de extravasar. Me toca lá dentro. Não existe mais nada para mim. Tenho medo de ficar alienada por isso”, disse em uma das cartas lidas pela atriz global.

Foi ao som de "Relicário", uma das canções presentes no último álbum gravado por Cássia, o Acústico MTV (2001), que o diretor Paulo Henrique Fontenelle sentiu vontade de trazer a cantora para perto de si e do público, passados 13 anos de sua morte. “Quem cresceu nos anos 90 tem a Cássia como trilha sonora. Quando ela morreu ficou aquele vazio muito grande na vida da gente, na música brasileira. Fui pesquisar e descobri que não tinha nenhum filme, documentário ou programa de televisão que falasse dela como pessoa, além da artista. Senti falta de conhecer quem foi a mulher Cássia Eller e resolvi fazer o filme”, explica o cineasta em entrevista ao cmais+.

Foram quatro anos dedicados à pesquisa e às mais de 40 entrevistas realizadas ao longo da produção do documentário de Fontenelle, também diretor de Dossiê Jango (2013) e Loki – Arnaldo Baptista (2008). Tudo feito com o aval de Maria Eugênia, companheira de Cássia por 14 anos. “Ela estava preocupada em saber como a Cássia seria retratada [à época, Chicão, filho da cantora com o músico Waltinho Villaça, era menor de idade]. Queria que eu a mostrasse de todos os ângulos possíveis, falando de drogas, dos casos de amor, da Cássia família. E é isso que faz a Cássia uma pessoa fantástica, única. Eugênia não queria que eu a endeusasse e nem que recorresse a estereótipos. Ela queria a Cássia real”, conta ele.

Das primeiras referências, passando pela entrada à cena musical, em Brasília, o desenvolvimento profissional, a reformulação de seu estilo a pedido do filho, fã de Marisa Monte, as fortes amizades, os relacionamentos paralelos, a ascensão, as fugas, a gravação de discos, a maternidade, a relação com as drogas, a fama, o Rock In Rio, em 2001, os episódios de pânico, as crises de abstinência, a saudade da família, o infarto para o IML, a overdose segundo a imprensa, a guarda de Chicão e outros enquadramentos são parte do longa-metragem. “Um filme sem filtros é o que ela gostaria de assistir”, diz o diretor.

Na composição, fotografias, trechos de shows, entrevistas - as quais Cássia detestava -, vídeos de bastidores e de passagens íntimas, e trilha sonora por conta da homenageada inflamam o documentário junto a diversos relatos. Estão presentes o grande amigo e produtor Nando Reis, Zélia Duncan, Oswaldo Montenegro, Janette Dornellas, os músicos da banda - incluindo a percussionista Lan Lan, com quem Cássia se relacionou -, os empresários Wanderson Eller, Francisco Netto e Ronaldo Villas, Eugênia, a mãe e a irmã da cantora e, por fim, Chicão, hoje com 21 anos de idade.

“As entrevistas eram intensas e emocionantes. Isso porque ela transmitia muito amor para as pessoas. Quem a conheceu teve sua vida transformada pela simplicidade e originalidade. Era uma pessoa que não estava nem aí para dinheiro, fama. É uma inspiração para todos os artistas. Muitos deveriam se preocupar mais com a arte que com o show business. Hoje tenho saudade de uma amiga que não conheci. Depois dessa experiência sou outra pessoa. Ficou mais da Cássia Eller em mim do que de mim no filme”, revela Fontenelle. 

Na visão do cineasta, Cássia não deu conta de administrar a fama e o amor recebido pelos fãs. “A história que mais me impressionou no filme e o que resume ela como artista aconteceu no auge do sucesso, quando estava estourando com “Segundo o Sol” e de saco cheio do show business. Ela ia com os músicos para uma cidadezinha do interior se apresentar em churrascarias. Fugia, não atendia ao telefone. Cobrava R$ 5 o ingresso só para pagar o jantar e ter o prazer de tocar, de ter o contato com o público. A música era uma questão de sobrevivência”, fala.

Estreia dia 29 de janeiro nos cinemas. 

Assista ao trailer:

O cmais+ é o portal de conteúdo da Cultura e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura, TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.

Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.

Comentários

Compartilhar


relacionadas