Ataque à redação da revista francesa Charlie Hebdo deixa 12 mortos

Ato violento reacende discussões acerca da liberdade de expressão, do limiar entre humor e responsabilidade, e do extremismo. Entenda o caso


Rita Albuquerque, do cmais+ | colaboração Marília Fredini e AFP | foto Reprodução Mundo

07/01/15 16:38 - Atualizado em 07/01/15 21:32

Ataque Charlie Hebdo
Além dos mortos, cerca de 11 pessoas ficaram feridas no atentado à sede da revista Charlie Hebdo (Foto: Reprodução)

Provavelmente, esta seria uma quarta-feira como tantas outras na redação da revista satírica francesa Charlie Hebdo. A última edição do veículo, lançada nesta quarta-feira (7), já estava nas bancas, estampando na capa uma caricatura do escritor Michel Houllebecq, que acabara de publicar o livro de ficção política Submissão, o qual imagina uma França islamizada nos próximos anos. Mas não foi.

Um atentado na sede da Charlie Hebdo, em Paris, deixou 12 mortos nesta manhã. Três homens invadiram o local portando metralhadoras AK-47 e atiraram contra funcionários. Segundo o jornal Le Figaro, o diretor da publicação e também cartunista Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb, está entre as vítimas. Após confronto direto com policiais, também atingidos, os autores do crime fugiram em um carro guiado por outro elemento do grupo. Sabe-se que eles foram até a região nordeste da cidade, onde sequestraram um veículo para continuar a fuga.

À noite, Hamyd Mourad, de 18 anos de idade, entregou-se à polícia alegando ser inocente. Ele teria agido voluntariamente após ver o seu nome na lista dos envolvidos no atentado. De acordo com a agência de notícias France-Presse, outros dois suspeitos, os irmãos Chérif e Said Kouachi, de 32 e 34 anos, respectivamente, já teriam sido localizados no norte da França. Eles estariam a bordo de um carro cinza, portando armas de guerra.

Cartunista Fernando Gonsales fala sobre o ataque em entrevista ao RadioMetrópolis

Para o presidente da França, François Hollande, não há dúvida de que o ataque foi terrorista. “A França é ameaçada porque é um país livre”, falou o governante em frente ao local onde o episódio ocorreu. O ministro do interior, Bernard Cazeneuve, já informou que o governo está tomando as devidas medidas anti-terroristas. Apesar da afirmação, entretanto, nada se sabe sobre a ligação dos responsáveis com organizações como a ISIS (Estado Islâmico do Iraque e da Síria, em português), que ameaçou atacar a Charlie recentemente. Como lembra o especialista em política internacional, Guga Chacra, “o ataque pode ter sido de lobos solitários”, como o que aconteceu em um café em Sydney, na Austrália, no dia 15 de dezembro de 2014. 

A publicação que ilustra seu lado provocante era alvo constante de ameaças desde 2006, quando reproduziu uma série de charges do jornal dinamarquês Jyllands-Posten sobre Maomé. Há pouco, a direção do veículo de origem escandinava anunciou que medidas adicionais de segurança também foram tomadas. Em 2011, um atentado com coquetéis molotov incendiou parte da sede da Charlie Hebdo no distrito 11 do leste de Paris. "Vivíamos há oito anos sob ameaça, não há nada que possa ser feito contra bárbaros com kalachnikovs (fuzis russos)”, disse Richard Malka, advogado da publicação parisiense. "É uma revista que apenas defendeu a liberdade de expressão ou simplesmente a liberdade", acrescentou.

Conheça a Charlie Hebdo, revista irreverente e ameaçada pelas charges de Maomé

No Brasil, a presidente Dilma Rousseff classificou como um ato de barbárie intolerável o crime ocorrido nesta quarta-feira. “Além das lastimáveis perdas humanas, é um inaceitável ataque a um valor fundamental das sociedades democráticas: a liberdade de imprensa”, afirmou em comunicado oficial.

O caso que envolve a Charlie Hebdo reacende uma discussão acerca da liberdade de expressão, do limiar entre humor e responsabilidade, e das ações radicais contra uma revista que chegou ao pico com 480 mil exemplares vendidos na ocasião das charges reproduzidas, em 2006, em comparação a uma média semanal de 30 mil. 

Confira algumas das capas polêmicas da Charlie Hebdo:

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