A Teoria de Tudo conta a história de um gênio da física, sob um olhar subjetivo

A cinebiografia de Stephen Hawking que estreia quinta (29), promete comover o público com cenas bem escritas e dirigidas, interpretações minuciosamente trabalhadas e um final atípico, mas que convence.


Bruno Rodrigues, do cmais+ Cinema

28/01/15 15:43 - Atualizado em 29/01/15 22:08

Eddie Redmayne interpreta o físico Stephen Hawking, o maior papel de sua carreira (Foto: Reprodução)

Emocionante. Essa é palavra que pode definir A Teoria de Tudo, cinebiografia britânica que estreia quinta (29) nos cinemas e é, sem sombras de dúvidas, um drama daqueles que você sai do cinema com um nó na garganta e a cabeça a mil, refletindo sobre as questões mais enigmáticas da vida.

O roteiro do nova-iorquino Anthony McCarten é incrivelmente rápido e envolvente. Em poucos minutos, o casal de protagonistas trocam olhares e o público passa a sentir a química entre Stephen Hawking (Eddie Redmayne), um desajeitado estudante de doutorado da Universidade de Cambridge na área de cosmologia, e Jane (Felicity Jones), uma estudante de artes de aparência meiga e tímida.

A trajetória do casal, o passo a passo de Hawking para desenvolver sua teoria da existência do buraco negro no universo e o rápido avanço de sua doença são elementos que o público já espera acompanhar na trama, além dos 123 minutos muito bem aproveitados com belas fotografias noturnas de Cambridge (cidade pouco explorada no cinema), as quais enchem os olhos do público e, claro, realçam a suavidade do amor de Stephen e Jane – passando a imagem de um romance mágico, típico dos casais Disney.

Stephen Hawking e Jane em Cambridge (Foto: Reprodução).

A Teoria de Tudo vai além desses elementos esperados. Rapidamente, a trama se torna uma curiosa mistura entre dois mundos que normalmente não se colidem, ou melhor, não se apaixonam: a razão e a subjetividade. A convivência do casal ao longo do filme mostra as diferenças que existem entre eles, em especial no campo intelectual. Jane venera a arte, a cousa abstrata e frequenta a Igreja, enquanto Stephen é o lado racional e defensor da tese de que a ciência pode responder quaisquer dúvidas.

Essa tal dessemelhança é o charme no romance dos dois, já que um desafia o outro na tentativa de defender suas respectivas crenças e visões de mundo em busca de respostas para as questões metafísicas do mundo. Ao mesmo tempo, o casal compartilha também suas ideias e teses de doutorado.

A colisão entre a personificação da razão/ciência e a personagem que dá vida ao subjetivo, à arte e à religião acaba criando boa química e ajuda a explicar o porquê da trama fisgar o público rapidamente por meio de um casal que transmite empatia instantânea por ser tão diferente.

O casal protagoniza lindas cenas românticas em A Teoria de Tudo (Foto: Reprodução)

A cinebiografia apresenta outro contraste: a trilha e o silêncio. Ao som de sinfonias instrumentais suaves que captam rapidamente o público, a presença de uma trilha sonora seleta sublinha importantes eventos da trama - como o momento em que Stephen passa a ser reconhecido como um talento jovem e promissor na ciência, estimulado pelo seu professor de doutorado –, até o ápice de seu acontecimento dramático, quando passa a dar sinais de sua doença. O silêncio marca presença a partir de quando Stephen Hawking passa a descobrir que é portador de esclerose lateral amiotrófica e que tem apenas dois anos de vida.

O choque dramático que a trama recebe repentinamente após Hawking ficar ciente de seu estado de saúde não fica apenas no campo sonoro. As interpretações de Eddie Redmayne e Felicity Jones convencem e comovem no longa. A semelhança com seus respectivos personagens fica além da aparência física, ela extrapola a telona com atuações que arrepiam e encantam pela riqueza de detalhes na composição de tiques, pequenas manias e costumes.

Eddie Redmayne interpreta Stephen Hawking. (Foto: Reprodução)

Apesar da presença de diálogos diretos e concisos no roteiro, muitas cenas exigiram dos atores um teor subjetivo, notável na intensidade dos olhares, nos trejeitos e nas pausas milimetricamente pensadas e trabalhadas por ambos – tudo para não exagerar. Inclusive, esse foi um dos pontos que Felicity Jones abordou em suas diversas entrevistas. A expectativa para agradar ao público e, sobretudo, retratar de modo justo a história foram os motivos desse minucioso trabalho.

Durante as gravações, o físico Stephen Hawking visitou o set de gravações e deu seu aval tanto para o trabalho da equipe como para a abordagem de algumas cenas do longa-metragem, elogiando a atuação de Eddie Redmayne, principalmente.

A trama estreia com dois prêmios do Globo de Ouro deste ano nas categorias Melhor ator – drama e Melhor trilha original para filme, além de ter recebido outras duas indicações. Já para a 87ª cerimônia do Oscar na noite do dia 22 de fevereiro, a cinebiografia de Stephen Hawking é indicada em cinco categorias: Melhor atriz, Melhor ator, Melhor trilha sonora, Melhor roteiro adaptado e Melhor filme.

Alguns elementos explicam o porquê do filme ser tão ovacionado pela crítica (espera-se também pelo público): James Marsh conseguiu dirigir o longa com a suavidade que a trama pedia; Anthony McCarten escreveu um roteiro que proporciona para o público um mix de emoção do início ao fim e criou dois personagens tão palpáveis que saltam a tela; o protagonismo de Hawking a partir da metade da trama é aos poucos sendo transferido para Jane, que também se destaca em sua interpretação, conforme seu companheiro vai ficando debilitado. Com a entrada de Elaine Mason (Maxine Peake) e Jonathan Hellyer Jones (Charlie Cox), a história tem um desfecho diferente e que promete surpreender o público.

A Teoria de Tudo já é sucesso, porque foi capaz de solucionar uma rara equação no cinema: ótima direção + excelente roteiro + elenco bem escalado = uma feliz combinação de trabalho em todas as esferas.

 

FICHA TÉCNICA:

Estreia: 29 de janeiro (quinta-feira)

Direção: James Marsh

Roteiro: Anthony McCarten

Elenco: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Tom Prior, Harry Lloyd, Maxine Peake, Charlie Cox e mais.

Gênero: Drama

Duração: 123 minutos

Nacionalidade: Reino Unido

Distribuidor: Universal Pictures

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