Letra Nova

Chico Buarque faz autoficção

O músico e escritor lê trechos do romance O irmão alemão


Luís Antônio Giron, do cmais+ | foto e vídeo Companhia das Letras Literatura

04/11/14 16:10 - Atualizado em 04/11/14 16:50

Chico Buarque

O irmão alemão (Companhia das Letras, 240 páginas, livro: R$ 39,90; livro digital: R$ 27,90) é o quinto romance da carreira de 50 anos do escritor Chico Buarque de Hollanda  - e o mais autobiográfico. Entre 1967e 2014, Chico publicou doze livros, entre romances, dois livros infantis, uma fábula adulta e cinco peças de teatro. Seus livros sempre fizeram sucesso, até porque se beneficiaram da carreira do músico idolatrado, iniciada em 1965.

Chico chega aos 70 anos coberto de glórias.  Além da musical, ele ambiciona agora a glória literária. Não é fácil ser recebido no círculo sagrado dos escritores. Até hoje, seus romances são vistos com desconfiança pelos críticos mais renomados. Mas a verdade é que seus romances exibem boa qualidade, muito embora o Chico romancista não se compara ao trovador popular e autor de alguns clássicos do cancioneiro do Brasil.

Mas a literatura buarquiana tem seu valor. O romance de estreia, Estorvo, de 1991, é uma fábula kafkiana de um homem perdido entre cismas e deslocamentos. Budapeste, de 2003, aborda o clássico tema do duplo e do ghost writer. A influência de Philip Roth (O escritor fantasma) e de Robert Louis Stevenson (O estranho cadso do Dr.  Jekyll e do Sr. Hyde) é óbvia. Para compor a novela Leite derramado, de 2009, Chico se baseou na canção “Velho Chico”, de sua autoria, para narrar a decadência de um chefe de família tradicional. Em O irmão alemão, ele envereda pela invenção autobiográfica.

 Em primeira pessoa, como em todos os romances de Chico, o protagonista Ciccio narra a história do pai, um intelectual obcecado pela escrita, e a do filho que ele teve na juventude. No vídeo que Chico divulgou para turbinar as pré-vendas do livro, que chega ao mercado dia 14 de novembro, ele lê um trecho do romance. 

A descrição do professor rodeado de livros e escrevendo sem parar corresponde parcialmente à do pai de Chico, o historiador Sergio Buarque de Hollanda (1902-1982): “Então chamava com seu vozeirão: Assunta! Assunta!, e lá ia minha mãe atrás de um Homero, um Virgílio, um Dante, que lhe trazia correndo antes que ele perdesse a pista. E a novidade ficava de lado, enquanto ele não relesse o livro antigo de cabo a rabo. Por isso não estranha que tantas vezes meu pai deixasse cair no peito um livro aberto e adormecesse com um cigarro entre os dedos ali mesmo na espreguiçadeira, onde sonharia com papiros, com os manuscritos iluminados, com a Biblioteca de Alexandria, para acordar angustiado com a quantidade de livros que jamais leria porque queimados, ou extraviados, ou escritos em línguas fora do seu alcance. Era tanta leitura para pôr em dia, que me parecia improvável ele vir a escrever o melhor libro del mondo.”

O irmão alemão é uma autoficção, o gênero da moda. A mãe real, Ana Amélia, se transforma na italiana Assunta. E assim como Chico ficou sabendo já adulto que seu pai tinha tido um filho na Alemanha antes de se casar, conforme lhe contou o poeta Manuel Bandeira, Ciccio sai em busca do irmão alemão, que o Chico real nunca quis encontrar. Esta é a premissa de um livro que, como todos os outros, certamente fará sucesso de público. Só falta a Chico alcançar o êxito junto à crítica. E como Chico sempre se refere aos críticos com sarcasmo, ele provavelmente nunca o alcançará. 

Leia um trecho de O irmão alemão

O irmão alemão

 

O cmais+ é o portal de conteúdo da Cultura e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura, TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.

Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.

Comentários

Compartilhar


relacionadas