“Criança tem que ir par o quintal brincar”, diz João Acaiabe durante apresentação em Monteiro Lobato

Intérprete do “Tio Barnabé” na versão de 2001 do Sítio do Picapau Amarelo, ator comenta relação da criança com televisão e tecnologia.


Arte & Cultura

17/09/13 15:58 - Atualizado em 24/09/13 13:32

João Acaiabe - Festival de Literatura Infantil de Monteiro Lobato
João Acaiabe durante apresentação em Monteiro Lobato (SP).

É provável que muitos adultos já tenham ouvido as histórias contadas por João Acaiabe durante a infância, no clássico Bambalão, produzido pela TV Cultura, na década de 80. Anos mais tarde, uma nova geração o conheceu como  Tio Barnabé, na versão de 2001 do Sítio do Picapau Amarelo (TV Globo). Agora, João está novamente no ar para os pequenos em Chiquititas(SBT).

Além dos trabalhos na televisão, o eterno "Tio Barnabé" segue contado histórias e divertindo plateias recheadas de crianças pelo país. Nas apresentações, ele é o típico contador de enredos lúdicos e interage com o público o tempo todo. Causos e parlendas estão presentes nas contaçõesdo ator, que se diz preocupado com a relação da criança com a tecnologia. “A criança tem que ir para o quintal brincar. A brincadeira é fundamental”, diz.

Neste domingo (15), após sua apresentação no Festival de Literatura Infantil em Monteiro Lobato (SP), no interior de São Paulo, Acaiabe falou da sua relação com os pequenos. "O trabalho com crianças tem me acompanhado e me direcionado. Não parti na carreira pensando em trabalhar para criança, as coisas foram acontecendo", afirma o ator que começou no teatro, antes de se consagrar na TV.

Na passagem pela cidade onde Lobato se inspirou para criar suas histórias, o autor também comentou o legado deixado pelo escritor, que na sua opinião foi um divisor de águas para a literatura infantil. Na entrevista abaixo, Acaiabefala da expectativa para a reprise do Sítio do Picapau Amarelo, que deve acontecer em breve, agora pela TV Cultura. "É incrível como a história é atemporal. As crianças se interessam muito e as pessoas ainda me reconhecem pelo personagem do Tio Barnabé", diz.  

João Acaiabe - Programa Bambalalão -  TV Cultura- 1984
Programa Bambalalão em 1984 - TV Cultura. (Foto: CEDOC FPA)

Seu trabalho com crianças começou na década de 80, em Bambalalão (TV Cultura) e seguiu em diversas outras atrações de sucesso. Como tem sido trabalhar para o público infantil? 
O trabalho com crianças tem me acompanhado e me direcionado. Não parti na carreira pensando em trabalhar para criança, as coisas foram acontecendo. Minha formação é de teatro e eu fiz teatro adulto muito tempo. Depois fui para o Bambalalão, passou um outro tempo em que fiquei fazendo novelas e teatro para adultos e caí no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Depois eu fiz novelas para adultos e caí na Chiquititas.

Como o senhor tem visto a produção de conteúdos infantis na TV aberta ao longo dos anos?
O Bambalalãofoi um programa pioneiro e tinha muita qualidade. Depois a gente se perdeu por causa da mídia, pelos processos de produção e também foram acontecendo outras coisas. Acho que o cuidado dessa novela que eu estou fazendo é muito grande. Hoje tem que fazer um trabalho com muito cuidado para as crianças. Normalmente as pessoas acham que por ser algo para crianças não tem exigência, mas é o contrário. Por ser para as crianças, elas são muito exigentes e se não gostam, elas desligam a TV e mudam de canal. Se no teatro a gente fala bobagem, elas vão embora. Acho que tem que se fazer trabalhos com muito mais cuidado.   

Como foi viver o personagem Tio Barnabé na versão de 2001 do Sítio? Como vê o trabalho feito por Monteiro Lobato para as crianças?
Eu fiz o Sítio de 2001 até 2007 e agora a TV Cultura deve reprisar. É um período enorme de mais de dez anos. O primeiro sítio mesmo foi montado há 30 anos e é incrível como a história é atemporal. As crianças se interessam muito, as pessoas ainda me reconhecem pelo personagem do Tio Barnabé. Eu sempre levo questões raciais em meu trabalho e o Sítiotraz várias questões que dá para conversar depois. Têm tido várias polêmicas e questionamentos sobre os personagens de Monteiro Lobato e pra mim isso vem de uma forma interessante. Eu tenho uma consciência e respeito bastante o autor porque ele é um autor dentro da sua época. É um grande trabalho literário e facilita com que a criança tome conhecimento do universo do livro. A literatura infantil existe antes e depois de Monteiro Lobato. Ele foi um divisor de águas.

Na sua apresentação o senhor comenta que as crianças têm deixado de brincar. Quais são os interesses da criança para entretenimento atualmente?
Acho que o computador não é tudo. Eu fui criado em uma cidade pequena e brincava na rua o tempo todo. Claro que não estou dizendo que as crianças tem que ir para rua, mas tem que ir para o quintal brincar. Essa brincadeira de trava-línguas amplia sua imaginação, as histórias ampliam a imaginação. A brincadeira é fundamental. 

E como isso pode mudar?
Acho que a escola tem que trazer isso. Em casa os pais tem que trazer da lembrança as brincadeiras que eles tiveram e provocar as crianças para brincarem, porque você vai ter a criança interagindo. A gente chegava perdido de poeira e não tinha briga do pai e da mãe por isso. Agora a criança está limpinha e como é que faz?

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