Diário da Mostra: 'Acima das nuvens', 'Foxcactcher' e 'A pequena casa'

Juliette Binoche ao lado de Kirsten Stewart, Steve Carrell em atuação assombrosa e fábula do veterano Yoji Yamada em dias de Guerra são destaques dos primeiros dias da 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Felipe Tringoni Cinema

23/10/14 11:01 - Atualizado em 24/10/14 16:45

Acima das nuvens (Imagem: Divulgação)

Até a próxima quarta-feira (29), cerca de 330 produções nacionais e estrangeiras estão reunidas na 38ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, evento mais aguardado do ano para o público cinéfilo.

Homenagem e retrospectiva da obra do espanhol Pedro Almodóvar, revisões de obras clássicas do japonês Noboru Nakamura, do espanhol Víctor Erice, do franco-romeno Marin Karmitz e sua produtora MK2, filmes premiados nos mais célebres festivais internacionais, além de panoramas da produção de diferentes partes do mundo, inclusive a brasileira. O tempo é curto, as atrações são muitas. Na próxima semana, aqui no cmais+, traremos destaques da programação da Mostra e dicas de onde acompanhar as sessões desses filmes.

Aqui, destacamos Acima das nuvens, a nova produção do mestre francês Olivier Assayas (de Horas de verão), que traz Juliette Binoche e Kirsten Stewart no elenco; Foxcatcher, o mais recente trabalho do estadunidense Bennett Miller (de Capote), com atuação memorável de Steve Carrell; e o novo melodrama do veterano japonês Yoji Yamada (de É triste ser homem): A pequena casa.

Acima das nuvens (Clouds of Sils Maria), 2014, de Olivier Assayas

Depois de mirar na juventude francesa pós-1968 em Depois de maio (Après mai, um dos destaques da Mostra de 2012), Olivier Assayas retorna ao contemporâneo e reflete sobre passagem do tempo, temperamento artístico, representação e culto a celebridades em seu novo Acima das nuvens.

Juliette Binoche vive Maria Enders, celebrada atriz que é convidada a atuar em nova montagem da peça de teatro com que iniciou sua carreira. Mas, desta vez, Maria deve encenar a mulher mais madura, e não a jovem que a consagrou vinte anos antes. Esse papel caberá à estrela do momento, Jo-Ann Ellis (Chloë Grace Moretz), que vive envolta em escândalos e filmes milionários em Hollywood.

"O tempo passa, ela não aceita. Eu também não, suponho", reflete Maria em meio às dúvidas em fazer ou não o papel. Suas conversas com Valentine (Kirsten Stewart), sua assistente pessoal e preparadora, são um ponto forte do filme, à medida que se interseccionam com os ensaios dos diálogos para a peça. Ao mesmo tempo em que passam as falas em belas paisagens na Suíça, Maria e Valentine refletem a ambiguidade entre as duas personagens da montagem teatral e, por que não, delas próprias. Assayas maneja todas as questões levantadas de maneira vigorosa, jamais excessiva, em mais um belo item de uma filmografia irretocável.

O longa tem estreia no circuito comercial de São Paulo marcada para 1º de janeiro de 2015.





Foxcatcher - Uma história que chocou o mundo (Foxcatcher), 2014, de Bennett Miller

Steve Carrell sempre deu indícios, ao longo de sua carreira de ator, de seu potencial para papéis dramáticos. O desempenho do intérprete – de figura ligada a personagens cômicos em O virgem de 40 anos, Agente 86 e no seriado The Office – é o grande destaque deste Foxcatcher, dirigido por Bennett Miller. O trio de atores principais, aliás, é o ponto forte do longa. Além de Carrell, Channing Tatum e Mark Ruffalo tem desempenhos notáveis e constroem personagens psicologicamente complexos e enigmáticos – impressão reforçada pelos diálogos breves e pela valorização dos silêncios.

Baseado numa história real, o filme mostra a formação da equipe de luta greco-romana do milionário da Pensilvânia John Du Pont (Carrell). O esporte é sua fixação e o leva, inclusive, a contrariar interesses de sua mãe (vivida pela veterana Vanessa Redgrave), que considera a modalidade “baixa”, em busca de seu objetivo: ser chefe da melhor equipe de luta do mundo. Suas metas pessoais são camufladas por ideais como o “espírito olímpico americano”, e é usando essa cortina – e muito da interminável fortuna de sua família – que ele contrata Mark Schultz (Channing Tatum), atual campeão olímpico, e seu irmão mais velho Dave, também medalhista de ouro, treinador e lenda do esporte.

A trama se desenvolve a partir da relação desses três personagens, especialmente da influência de Du Pont – obsessivo, isolado e de pouca habilidade social – na trajetória dos vitoriosos atletas. O diretor Miller maneja com habilidade duas questões presentes em seus trabalhos anteriores: o dinheiro nos bastidores do esporte (como em Moneyball, seu filme de 2011) e motivações e sexualidade de um sujeito reprimido (Capote, de 2006, que rendeu o Oscar a Philip Seymour Hoffman). Um filme sombrio e inconclusivo, como a figura de Du Pont.

Foxcatcher tem estreia nos cinemas prevista para 29 de janeiro de 2015.





A pequena casa (Chiisai Ouchi), 2014, de Yoji Yamada

O legado indelével do mestre Yasujiro Ozu se faz presente na obra de Yoji Yamada há tempos. Sua refilmagem, ou melhor, adaptação contemporânea do mais cultuado filme de Ozu, Era uma vez em Tóquio (que virou Uma família em Tóquio e ganhou destaque na Mostra do ano passado), e este A pequena casa são os exemplos mais recentes disso.

O interior da referida “pequena casa” é onde se passam grande parte das ações do longa, que se divide em três tempos narrativos: a relação da jovem Taki, a protagonista, empregada doméstica da Família Hirai em Tóquio durante a Segunda Guerra Mundial, com seus patrões e com um arquiteto; os encontros de Taki, já uma senhora, com seu neto, enquanto coloca no papel algumas de suas memórias de juventude; e o presente, em que o garoto vai atrás de detalhes da história deixada pela avó.

Com sutileza, Yamada monta um melodrama focado em sentimentos represados e traição, com especial detalhe para como a Guerra marca a vida das pessoas e as expõe a tragédias econômicas e pessoais: a derrocada financeira dos Hirai, a ida do arquiteto Itakura ao exército, a volta de Taki a sua cidade natal. Um melodrama de tons clássicos à ótima moda de Yamada e do mestre Ozu.

O filme tem sua última sessão dentro da Mostra neste sábado (25), às 19h, no Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca 3.


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